Chame-lhe progresso
Quem do extermínio secular se ufana;
Eu modesto cantor do povo extinto
Chorareinos vastíssimos sepulcros,
Que vão do mar aos Andes, e do Prata
Ao largo e doce mar das Amazonas.
( Gonçalves Dias, Os Timbiras)
A alteridade ameríndia, segundo relato do antropólogo Darcy Ribeiro, traça percursos penosos e embates dramáticos. O enfrentamento desses percursos e embates é o que move a coletânea de ensaios “A Alteridade Ameríndia na Ficção Contemporânea das Américas”, de Rita Olivieri – Godet.
A publicação traz o selo da Fino Traço Editora, e tem lançamento agendado para as 20h do dia 29 de agosto, na Galeria de Arte Carlo Barbosa, Centro Universitário de Cultura e Arte (Cuca).
Embora o livro privilegie as representações literárias contemporâneas do ameríndio no Brasil, Argentina e Quebec promove-se nele o diálogo significativo com a Antropologia,a Historiografia e as Ciências Sociais, a Literatura Comparada e a Teoria da Literatura.
“O resultado é um rico painel de interpretações e reflexões sobre uma poética da alteridade ameríndia, não somente na expressão das três literaturas enfocadas, mas na contribuição para a abordagem teórica da alteridade e sua representação em geral”, afirma Maria Zilda Cury, professora de Teoria da Literatura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que assina a orelha do livro.
A temática é visitada por meio da seleção de romances de autores importantescomo Darcy Ribeiro, Murilo Carvalho, Bernardo Carvalho, Antônio Torres e Milton Hatoum, os argentinos Juan José Saer, Leopoldo Brizuela, Cesar Aira, e os quebequenses Gérard Bouchard, Bernard Assiniwi e Robert Lalonde.
Para Rita Olivieri-Godet, as obras de ficção desses autores “proporcionam uma discussão sobre a questão da autonomia dos povos ameríndios e as modalidades de um projetoinclusivo no que diz respeito à construção da cidadania no interior dos estados nacionais, além de possibilitarem uma reflexão sobre o significado da “ americanidade” no âmbito do cosmopolitismo pós-moderno”.
E complementa. “Contribuem, dessa forma, para colocar o imaginário que reserva aos povos indígenas o lugar marginalizado de “estrangeiros de dentro”, de “relíquias de um passado” a ser preservado, impulsionando, ao modo delas, a reconfiguração da sensibilidade contemporânea”, conclui.
Rita Olivieri- Godet é brasileira, mas vive na França há muitos anos. A princípio em Paris e atualmente na cidade de Rennes, onde é professora de Literatura Brasileira na Universidade do mesmo nome. É membro do Institut Universitaire de France.
Socorro Pitombo