Demonizado pela classe média alta; que prega a todo custo segregação e até pouco tempo via nas universidades públicas locais onde era hegemônica, longe dos mais pobres; o sistema de cotas ajudou e ainda ajuda a distribuir de forma mais heterogênea o acesso à educação e ao conhecimento no país.
Quase 83% dos estudantes brasileiros estão matriculados em escolas da rede pública. Entre os vestibulandos, tomando os dados da FUVEST/2013 como exemplo, esse número fica em quase 37%. Ou seja, desde o vestibular, observa-se a hegemonia dos estudantes de escolas privada.
Dos vestibulandos, quase 76% são brancos e, dos que passaram e se matricularam, temos 79% de brancos. Em contrapartida, segundo o Censo de 2010 do IBGE, apenas 48% dos brasileiros são brancos. Tais dados evidenciam o monopólio racial e econômico no acesso às universidades públicas.
Outro erro frequente é associar tal problema apenas a qualidade de ensino da escolas públicas. Seria idiota se negasse a importância fundamental desse fator, porém o ensino médio não deve ser transformado, como em vários colégios particulares, em um intensivo pré-vestibular e Enem.
Nesse sentido, os egressos de escolas privadas sempre manteriam uma vantagem, pois têm um aprendizado focado em resultados em exames de admissão, com ‘macetes’ e treinamento intensivo, simulados, etc.
Assim, mesmo com uma melhora substancial da qualidade do ensino público brasileiro, o plano governamental não tangenciaria a inclusão de ‘cursinhos’ nos colégios. Mas o ensino básico urge melhoras substanciais e que perpassem suas próprias estruturas institucionais e metodológicas.
Há outro fator ainda mais complicado: a questão social e étnica. A democracia racial de Sérgio Buarque e outros pensadores do século XX nunca existiu, e, na era da informação, ainda parece utópica.
Assim, o sistema de cotas é necessário para ajudar reduzir a desigualdade gritante do Brasil, sétima economia do mundo porém com o 144° pior coeficiente de Gini.
Ao contrario do discurso da classe favorecida, ele não põe pessoas despreparadas na universidade (as notas de corte para cotas chegam a ser maiores que as da ampla-concorrência), mas sim garante um ambiente universitário, para desespero da high society higienista, heterogêneo e menos artificial.