Por Juliana Vital/Tribuna Feirense:
O painel de Lênio Braga, no Terminal Rodoviário de Feira de Santana retrata a cultura popular nordestina, com referências à linguagem de cordel, aos parachoques de caminhões, ditos e crenças populares, à estética dos ex-votos, dentre outras. Tombado pelo estado como Patrimônio Cultural da Bahia desde 2001, há cerca de um mês o painel sofreu graves danos, tendo parte de sua estrutura quebrada.
De acordo com a administração do terminal rodoviário, os danos foram fruto da ação do tempo e falta de manutenção da obra de arte. Além da parte quebrada, o painel apresenta outros problemas em sua estrutura. O azulejo está todo fofo. Ao bater com os dedos e é possível perceber o som oco.
Há inclusive uma parte remendada com um material qualquer, que claramente não foi obra de um especialista no trato com bens culturais. “O mural tem quase 50 anos, é tombado pelo Ipac, mas nunca recebeu manutenção. Isso aconteceu naturalmente pela ação térmica. O calor e o frio fizeram com que parte do painel se soltasse e caísse sozinho. Aconteceu no início de maio e já acionamos a secretaria de Cultura. Guardamos as partes quebradas, por se tratar de um patrimônio tombado. Ninguém pode mexer nelas”, afirma Gustavo Pluma, diretor da Sinart (Sociedade Nacional Apoio Rodoviário Turistico) em Feira de Santana.
O painel é um grande mural, feito com azulejos. Para a execução, Lênio foi auxiliado pelo ceramista Udo Knoff, outra grande referência para as artes baianas. Segundo referências do IPAC, a importância do painel de Lênio Braga é incontestável visto não somente a relevância do artista no cenário cultural e artístico baiano, como também pelo valor da obra em si, referendada por críticos e especialistas de arte e publicada em revistas nacionais e estrangeiras.
Pintor, desenhista, ceramista, muralista, gravador, fotógrafo e artista gráfico, Lênio Braga (1931-1973) nasceu em Ribeirão Claro, Paraná. Foi aluno da Escola de artesanato de Museu de Arte de São Paulo, participou do Salão Paulista de Arte Moderna (1954), e da exposição do Museu de São Paulo em 1956, se mudando no final da década para a Bahia. Lênio participou de exposições coletivas e individuais na África, Bahia e Rio de Janeiro. Realizou vários trabalhos em cidades do interior da Bahia, como este em Feira de Santana.
Ipac promete fazer logo uma vistoria
A assessoria de comunicação do IPAC – Instituto do Patrimônio Artístico Cultural da Bahia, afirma que recebeu ofício da Secretaria de Cultura da prefeitura de Feira de Santana, sobre a situação e informou que até o dia 15 de junho de 2015, uma equipe técnica multidisciplinar do IPAC irá vistoriar o painel.
O IPAC ressalta que pela Constituição Brasileira de 1988, pelas leis municipais, estaduais e federais, jurídica e judicialmente o primeiro responsável por uma edificação ou obra de arte, é o proprietário, que deve, por Lei, dar manutenção permanente. Em segunda instância a prefeitura onde está edificado o bem. A terceira instância é quem efetuou o tombamento, neste caso o estado da Bahia.
Os bens culturais tombados têm prioridade para receber recursos das linhas de financiamento sejam municipais, estaduais, federais ou até internacionais. Para acesso aos recursos basta que os proprietários dos bens tombados se inscrevam nos Editais de Patrimônio. Há programas do tipo na esfera estadual (na secretaria de Cultura) e federal (no Ministério da Cultura).