“Foi aqui que pintei meu primeiro quadro”. Este não é o único motivo que faz de Jorge Abel Galeano o argentino mais feirense do que muitos feirenses que aqui nasceram.
O seu primeiro contato com a arte foi ainda na Argentina, sua terra natal, quando, aos 17 ou 18 anos, viajava pelo país em sua moto vendendo o artesanato que fazia. Um tempo depois, estudou na Escola de Belas Artes de Buenos Aires. Por já ser um artesão, os professores o tinham como um ajudante, o que o fez aprender a esculpir, restaurar, fazer afrescos, adquirir maior conhecimento sobre as técnicas de pintura.
Já formado e em meio ao clima pesado da Ditadura Militar na Argentina, Galeano decidiu, aos 26 anos, viajar pelo mundo com um quinteto de música latino-americana (porque, além de artista plástico, “também sou músico”) e quando passou pela Bahia, soube que voltaria pra cá. De fato, voltou. Passou um tempo em Salvador e veio para Feira de Santana, inicialmente para trabalhar como diretor de arte na recém-iniciada TV Subaé. Passados 2 ou 3 anos, começou a pintar por conta própria.
Galeano tem hoje um bem fornido currículo como artista plástico e uma obra que borbulha cores próprias e uma peculiar mistura do sertão com a cultura andina, a sua relação com o solo e a natureza.
Esta relação é o que melhor define o espaço onde vive há 17 anos: uma chácara no bairro Pampalona. “O pessoal, quando vai fazer um bairro, desmata tudo, corta tudo, aí vende o terreno. Então, eu comprei meu terreno, comecei a plantar, a reflorestar (…) Aí eu comecei a plantar aroeira, cajueiro, mangueira, jaqueira.” Mais ainda, plantou um jardim e atraiu para perto de si animais que haviam ido embora: pássaros, micos, sariguês, “os habitantes desse lugar”.
Segundo o próprio Galeano, começou a recriar a partir do que foi a Feira e do que poderia ter sido. “Isso é um mundo imaginário, utópico” e interfere diretamente em sua obra. Essa arte de transformar o local em global, de partilhar, de forma mágica, o seu mundo, sua utopia, compõe seus pincéis e suas telas, justifica suas séries intituladas “Meus mundos desconhecidos”, “Suíte Pampalona” e “Trópico Utópico”. Esta última, por sinal, esteve exposta no Equador, em 2014.
Galeano se sente tão feirense, que acha doloroso não ser incluído no rol dos pintores locais, em homenagens. Como bem lembra, Carybé era argentino, mas começou a pintar em Salvador e desta maneira era considerado: um artista baiano. Radicar vem do latim “radicare”, que significa “raiz”.
Jorge Galeano nasceu em Concórdia, na Argentina, mas é radicado em Feira de Santana há mais 20 anos. Escolheu, pois, fincar suas raízes nesta terra de largo entroncamento. Pode dizer que é pintor feirense. “Mas feirense mesmo”.