No dia 14 de julho (terça-feira), aproximadamente às 10:00h o estudante indígena da UEFS, Edivan Queiroz, da etnia fulni-ô estava embaixo de uma árvore fumando sua Chanduca (uma espécie de cachimbo e instrumento ritual utilizado por diferentes povos indígenas das Américas em cerimônias religiosas) quando foi abordado por dois Policiais Militares que o revistaram de forma truculenta.
Edivan e outros estudantes indígenas e quilombolas estavam alojados no Centro Social Urbano, no bairro da Cidade Nova, durante o período do vestibular da Universidade.
Outros estudantes indígenas que se aproximaram da ação policial também foram envolvidos na situação e ouviram uma série de agressões verbais através de palavras de baixo calão e da expressão de desconhecimento e de muito preconceito para com os povos e culturas indígenas.
Durante a tarde houve o retorno dos policiais ao CSU numa tentativa de que o caso se resolvesse ali, que os estudantes não fizessem nenhuma denúncia e que tudo não tinha passado de um mal entendido.
Mas o caso foi levado para a Administração Superior da Universidade, no mesmo dia, e no dia seguinte os estudantes foram acolhidos na PROPAAE (Pró-Reitoria de Políticas Afirmativas e Assuntos Estudantis) onde relataram todo o ocorrido e no final da tarde houve uma reunião com a Reitoria na qual os estudantes formalizaram representação do ocorrido e encaminhou-se que a Reitoria solicitaria uma reunião com o Comandante Geral da Polícia Militar de Feira de Santana.
Por conta da sensação de insegurança dos estudantes, foi viabilizado o retorno deles às suas cidades de origem, também com o objetivo de conversar com suas famílias e lideranças indígenas.
Em reunião entre a Reitoria, a PROPAAE e o Coronel responsável pela Polícia Militar de Feira de Santana e região, no dia 24 de julho, ficou firmado o compromisso do Coronel em instituir uma Comissão de Sindicância interna para apurar o ocorrido, trabalho que se encontra em fase de conclusão.
Todo esse processo tem sido acompanhado de perto pela Defensoria Pública do Estado/Feira de Santana que foi acionada pela PROPAAE.
Esse caso também foi informado à Rede de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa da SEPROMI – Secretaria de Promoção da Igualdade Racial, à ANAÍ – Associação Nacional de Ação Indigenista e à FUNAI – Fundação Nacional do Índio (Regional de Paulo Afonso).
No dia 7 de agosto, houve na UEFS uma reunião da Reitoria e a PROPAAE com o Cacique Pankararu Pedro que veio acompanhado com Representantes da FUNAI, do Núcleo de Educação Escolar Indígena, da APOINME (Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo), outras lideranças indígenas, pais e mães de estudantes indígenas da UEFS e jovens indígenas Pankararu.
Na ocasião, a Reitoria se comprometeu de articular um encontro das lideranças indígenas com o Coronel da Polícia Militar de Feira de Santana, o que ocorreu no dia 13 de agosto.
Nessa reunião, que contou com a presença de Defensores Públicos de Feira de Santana, o Coronel informou como estava o Processo de Sindicância instaurado por ele, que os dois policiais envolvidos já tinham sido ouvidos, a PROPAAE também e só faltava o depoimento dos estudantes, o que aconteceu concomitante a essa reunião, para a condução e conclusão dos trabalhos da referida Comissão.
Após a apuração dos fatos e se confirmada a culpa dos policiais, alguma punição eles terão. Além disso, o Coronel se comprometeu também em rever a formação dos policias para que compreendam melhor essa diversidade étnica e cultural presente na cidade e que fatos como esse não venham a se repetir.
A Universidade também se colocou à disposição para colaborar no que for possível nessa formação da corporação através dos pesquisadores da instituição das temáticas negras e indígenas.
Por opção dos próprios estudantes envolvidos com o caso e das lideranças indígenas, não se impetrou ação judicial junto à Defensoria Pública do Estado e à Defensoria Pública da União. Os indígenas resolveram esperar o resultado da conclusão dos trabalhos da Comissão de Inquérito da Polícia Militar e avaliar, segundo o resultado, a pertinência ou não de dar continuidade ao processo.
O CONSEPE – Conselho Superior de Ensino Pesquisa e Extensão da UEFS emitiu uma nota pública solidarizando-se com os estudantes indígenas que passaram por esse constrangimento e lamentável episódio ocorrido na cidade de Feira de Santana e afirmaram o compromisso da instituição com a promoção da igualdade étnico-racial repudiando toda e qualquer manifestação de preconceito racial para com negros, indígenas, quilombolas e todos os grupos sociais historicamente discriminados nesse país.
A Associação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste também emitiu repúdio à ação dos policiais.