Quando estava a caminho do show de Geraldo Azevedo, na sexta passada, em Feira de Santana, quem me acompanhava disse ainda no caminho da casa de espetáculos “o legal é que vai ter um público seleto, né? Não é qualquer um que gosta de Geraldinho”.
Eu, de imediato respondi, arrancando um riso do taxista – aqui nessa terra as pessoas vão aos lugares pra dizer que foram. Maldita certeza de que seria como foi!
Os ingressos eram disponibilizados entre mesas e camarote. Todos sabem que a vista do camarote só existe para quem se apropria do alambrado. Tudo bem, mas o som deveria chegar pra todos. Não foi o que aconteceu.
Subiu ao palco, pontualmente, após esses animadores de circo que, vez ou outra, colocam pra anunciar shows de mpb, o menino septuagenário de sotaque pernambucano com seu violão entoando O Princípio do Prazer. O título da canção é perfeita pra o que se espera da primeira canção do show desse ícone da nossa boa música.
Queria estar enganado, novamente. Achei que, as preliminares ruins do apanhado geral que fiz do público assim que transitei, do início ao fim, pela área a mim destinada, seriam logo transformadas no gozo de ver o passageiro do táxi pra estação lunar mostrar para que veio. Todavia as pessoas continuavam gargalhando, paquerando, mulheres mirando as roupas das concorrentes, homens derramando copos cheios de uísque.
Lá embaixo, nas mesas, o público parecia empolgado. Transitavam como formigas guardando comida pra o inverno. A cigarra cantando no palco mal podia ser vista por quem chegou cedo pra pegar as mesas mais próximas. Um grupo levantou-se e formando a turma do gargarejo impossibilitou de, quem estava sentado, poder assistir como merecia.
Lá pelo camarote, minha intuição xamânica dizia que embaixo, no salão de entrada onde se encontrava um palco pequeno onde a última apresentação que salvou a noite se apresentaria, o som estaria melhor – e estava!
Geraldo economizou bastante nos acordes maravilhosos da introdução de Bicho de Sete Cabeças, mas mesmo assim foi um dos momentos de maior vibração do público.
Bem humorado, o integrante do grande encontro falou de microfone aberto com a cantora feirense Márcia Porto, sua companheira na Caminhada da Paz, sobre não ter conseguido entrar em contato com ela, ligando pra sua casa sendo atendido por “uma criança e um velho”, arrancando gargalhadas da plateia.
O riso era necessário porque tinha muita gente chateada com as batatas e bolinhos fritos pedidos e nunca trazidos pelos pouquíssimos garçons disponíveis.
Os cinquentões mais interessantes que eu conheço se gabam de ter visto os melhores shows de música aqui nessa mesma Terra de Lucas, quando ainda existia Feira Tênis Clube, Clube de Campo Cajueiro e Projeto Pixinguinha. Parece que a casa que trouxe Azevedo tem se esforçado em nos livrar do sertanejão universitário da Expofeira ou dos arrochas das inaugurações de meio metro de calçamento da prefeitura, isso é louvável, só falta mais profissionalismo e ao público, mais (bem mais) educação.
Porque depois de presenciar os acontecimentos de sexta a vontade era arrancá-lo do palco e dizer: vem, Geraldo, canta miudinho na palma da minha mão, quero ouvir você cantando, quero paz no coração.
Caíque Marques é jornalista