Lembrar da infância é lembrar de Jaguara. Idas e vindas ao rio Jacuípe, banhos e pescarias inesquecíveis. Muito futebol numa terra onde o campo era numa ladeira e a única bola era minha. E aí já viu, né? Não tinha baba se eu não estivesse no jogo. Craque é craque…
Andar de jegue ou a cavalo era outra maravilha que não sai da lembrança, mesmo naqueles dias que o jegue de Sinhozinho empacava e não andava de jeito nenhum. O pobre coitado com certeza estava cansado depois de uma longa viagem da roça e ainda ter que aturar aquele menino que teimava em subir e descer aquelas ruas poeirentas e cheia de pedras.
Andar de carro de boi ao som arrastado das rodas enormes de madeira era um acontecimento que ocorria de vez em quando. Eu era o único a ter o direito de subir no carro e seguir pela estrada até bem longe e depois voltar andando a pé todo alegre. Não lembro o nome do carreiro, mas sei que era conhecido de meu pai e por isso permitia que eu fizesse essa viagem fantástica.
Viajar de jeep e não ver a hora de descer correndo para abrir a próxima cancela – como diz aquele comercial – não tinha preço. Era tudo de bom. Pesado mesmo era andar de pau de arara em meio a estradas esburacadas dividindo a viagem com os bules de leite ou até mesmo com animais. Mesmo isso não fazia de minha infância menos animada. Era parte da rotina de uma criança que precisava vencer tantos desafios.
Bom mesmo era empinar arraia que só meu pai sabia fazer. Eram enormes, feitas de pano, e de tão pesadas precisavam ser empinadas com linha zero para suportar a força do vento. Era assim todo mês de agosto, quando o vento do inverno ajudava a coloca-las lá no alto para minha alegria e toda a galera que me acompanhava naquela empreitada.
Já fui rico, sabia? Juntei muito dinheiro… de papel de cigarro. Gaivota, Continental sem filtro, Hollywood, Arizona… Cada marca tinha um valor. Era negócio quase de verdade. Era a moeda das nossas brincadeiras contabilizadas nos nossos sonhos infantis.
Tem muito mais histórias que outro dia eu conto.