No seu romance de estreia, “A República do Mangue”, coleção “Viagens na Ficção”, da Chiado Editora, de Portugal, Jorge Magalhães se apoia em vasta experiência jornalística para engendrar, nesta comovente e emocionante história, cores vivas de um realismo inescapável aos fatos que enleiam protagonistas e coadjuvantes imbricados numa trama que se passa numa ilha paradisíaca e imaginária.
Contundente e elegantemente envolvente, a narrativa, rica na descrição minuciosa de cenários, objetos e personagens, nos remete, en passant, à época da Colonização Portuguesa no Brasil, transportando-a, com suas inescapáveis consequências, aos tempos de agora.
A depredação dos bosques dos manguezais pela ocupação desordenada do homem, agravada pela sanha criminosa do capital especulativo com a anuência do poder político, é o eixo central de “A República do Mangue”.
O drama de uma comunidade de humildes pescadores e marisqueiros de Tracajás, ilha/cidade que dá nome ao arquipélago idílico, revela a cosmovisão do autor sobre as engrenagens que subvertem e destroem valores e conceitos de um mundo ameaçado pela distopia de um modelo concentrador de poder.
Quem acendeu as primeiras luzes da literatura no caminho de Jorge Magalhães foram os grandes letristas e compositores da Música Popular Brasileira, numa época em que predominavam os antológicos festivais e o Brasil vivia sob a égide de uma ditadura militar.
Aos quinze anos, já circulava nas rodas frequentadas por poetas, artistas plásticos, músicos e intelectuais, lia clássicos da literatura e jornais havidos como “subversivos”, distribuídos, à época, na clandestinidade. Aos dezoito escreveu seu primeiro caderno de poesia e aos vinte ingressou profissionalmente no jornalismo.
Atuou como repórter nos jornais “Feira Hoje”, “Folha do Norte”, “Correio da Bahia”, “Tribuna da Bahia”, revista “Panorama” e foi produtor de jornalismo da TV Subaé, afiliada da Rede Globo, em Feira de Santana, maior e principal cidade do interior do Estado da Bahia, e uma das mais importantes do Brasil, onde o escritor nasceu.
Escreveu cerca de 200 discursos políticos, artigos e crônicas sobre uma variedade de temas; roteirizou documentários, um deles, sobre o Mosteiro de São Bento, em Salvador, foi transformado em vídeo pela Bahia, Cinema e Vídeo, vertido para o inglês, o francês e o espanhol, com distribuição dirigida a países da Europa.
Inspirado na dura realidade das populações que habitam as favelas da periferia brasileira, escreveu “Porrada de Polícia”, composição vencedora do Troféu Caymmi (1993), considerado o Oscar da música baiana. Emplacou o primeiro clip institucional da TV Educadora da Bahia, com a música “Cheiros e Temperos”, em 2003.
Pela Coleção Olhos D’Água teve publicado “Relvas e Espinhos”, em 1980. Também tem poemas publicados nas revistas “Atos” e “Sitientibus”, da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs). Tem no prelo o “O Genoma das Pedras”, poesia.
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