Quase 30 por cento da população da Bahia é negra, segundo dados do IGBE. O estado tem a segunda maior população de pretos do país, logo abaixo de São Paulo.
Salvador é cidade com mais negros no país. Tem mais negros que brancos. Uma força política, que podemos dizer, em permanente estado pre-ebulição. Uma força que ainda precisa ter consciência do seu poder, que embora imenso, não consegue eleger um governador. E são tantas as teorias sociológicas e filosóficas que fica difícil alcançar uma racionalidade.
Mas, entendo que um novo ponto pode dar alento para evolução política e de projeto de poder desses não-brancos.
Com a aprovação pela Câmara Municipal de Salvador do “Estatuto da Igualdade Racial e de Combate à Intolerância Religiosa” vem um alento e boas perspectivas. Tem de saber aproveitar do momento.
Foi uma discussão demorada, do que agora seguiu para ser sancionada pelo prefeito ACM Neto, que se espera, não vá mexer muito a ponto de descaracterizar o que levou dez anos para ser aprovado.
O que emperrava o processo gravitava ao derredor da criação de um artigo que abarcasse o termo “e outras religiões”, após cada menção às de matriz africana no projeto, pois o estatuto detém um capítulo dedicado à defesa da liberdade religiosa focado nas doutrinas de matriz africana. A bancada evangélica entrou em rota de colisão.
O projeto quer a garantia de igualdade à população negra soteropolitana – o que bem pode ser copiada por todos os edis de todos os municípios baianos.
O que concerne é igualitariedade dos afrodescendentes nas políticas públicas. Politicamente falando, agora, a cota incluirá acesso a cargos, empregos e contratos com a administração pública direta e indireta. Mas se perdeu quando foi suprimido um artigo que determinava que estabelecimentos, entidades, representações e associações que praticassem atos de racismo, discriminação racial e intolerância religiosa deveriam ter a licença cassada.
Aqueles que aprovaram o estatuto terminaram esquecendo ou não tiveram coragem, de observar que Salvador é a capital da desigualdade racial e onde o racismo é mais velado.
O Estatuto em sua essência busca a garantia da população negra à igualdade de oportunidades, combate à discriminação e intolerância racial e religiosa. Inclui política de saúde integral da população negra, educação, cultura, esporte e lazer e o ponto nevrálgico que é a liberdade religiosa. Um não à intolerância.
O documento tem mais amplitude, chegando à questão da regularização fundiária em comunidades remanescentes de quilombos, além de templos de culto das religiões de matrizes africanas, política a de emprego e renda.
Claro que ninguém acha que um estatuto vai acabar com o racismo institucionalizado. Mas serve para balizar políticas e outras leis.
Veja o caso do incipiente “Estatuto da Igualdade Racial” que começou a vigorar no país em 2010 depois de tramitar por anos no Congresso Nacional. O documento define que a população negra brasileira é formada pelo “conjunto de pessoas que se auto declaram pretas e pardas ou que adotam auto definição análoga” e seus enfoques são as políticas públicas e ações afirmativas. Iniciativas que andam mais devagar que o processo de votação.
Com relação ao processo na Câmara Municipal de Salvador, até hoje não se descobriu quais as “forças ocultas” que trabalharam contra, conforme havia denunciado o vereador Geraldo Jr, que até pediu que “entes ocultos” não fossem ouvidos pela mente dos vereadores.
O certo é que a população negra baiana, soteropolitana, bem pode pegar o mote deste estatuto aprovado e partir para cima, na tora. É hora de se organizar para o poder.
“Povo negro unido, povo negro forte, que não teme a luta, que não teme a morte”, cantavam os manifestantes na porta da Câmara no dia da aprovação do documento.
Jolivaldo Freitas é escritor, jornalista e publicitário; comentarista da Rádio Metrópole, articulista do Jornal Correio e do Portal Metro1 – Cronista da Tribuna da Bahia – Colaborador do iG, Yahoo, Bocão News e Pravda internacional. Editor sênior do site Notícia Capital
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