A vida imita a arte. Ao escrever o seu romance A República do Mangue, entre os anos 2000 e 2001, publicado em meados de 2015 pela Chiado, Jorge Magalhães não imaginou que a sua ficção se concretizaria no desastre ambiental que atingiu a costa do Nordeste brasileiro, causado por gigantescas manchas de óleo trazidas pelo Oceano Atlântico, afetando praias, rios e estuários indispensáveis à vida marinha, como os manguezais.
Em Tracajás, um arquipélago imaginário predominantemente cercado por manguezais, o escritor feirense conta a história de uma sociedade urbanamente organizada que vive a saga de ter a sua principal atividade econômica seriamente comprometida, em decorrência de um vazamento de óleo provocado por um rombo no casco de um navio que navegava nas águas da ilha.
Temendo a extinção do seu único meio de vida, pescadores e marisqueiro de Tracajá se unem para limpar o óleo que se aloja nas raízes do manguezal e salvar os mariscos, crustáceos e outras espécies consumidas e fartamente comercializadas no arquipélago ficcional de A República do Mangue.
As imagens mostradas pelas emissoras de TV da tragédia que já atinge 249 localidades em nove estado do Nordeste, mostram o desespero de pescadores e voluntários tentando evitar que o óleo atinja vastos manguezais nos estados de Pernambuco, Sergipe e Bahia.
As cenas parecerem retiradas das páginas do livro de Jorge Magalhães, que a exemplo da vida real, não conta com a ajuda oficial do governo para pôr fim a tragédia ambiental de proporções inimagináveis, e, sim, com voluntários do povo e trabalhadores que tiram o sustento dos frutos do mar e do estuários.
Considerados berçários dos oceanos, os manguezais são um ecossistema complexos, ricos em nutrientes, onde cerca de 80% das espécies economicamente importantes se reproduzem.
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