Que tiro foi esse, que acertou os tímpanos do nosso povo, fazendo-o ouvir lixo achando que é música? Recebi essa sugestão pelo WhatsApp, do poeta Eduardo Rocha, que aliás escreve versos muito sintomáticos sobre as mazelas que vivemos em nosso país. Não sabemos de onde veio o tiro, mas que acertou em cheio isso é fato, roubando o nosso brilho e nos fazendo retroceder.
Parei para pensar e comecei a prestar atenção no que vejo e ouço na televisão e no rádio. Com algumas exceções, é claro, as composições são pobres, sem nenhuma criatividade e a melodia… que melodia?
Para quem acompanhou o despertar do sucesso dos baianíssimos Caetano Veloso, Gilberto Gil e Gal Gosta e algum tempo depois Ivete Sangalo, sem esquecer outros expoentes, como Nando Reis, Chico Buarque, Djavan e Milton Nascimento, para citar apenas alguns bons compositores e intérpretes da música popular brasileira, é verdadeiramente, um tiro no ouvido.
A cada momento somos surpreendidos com uma profusão de novos cantores e a consequente diversidade de gêneros musicais. O cenário é bem democrático, convenhamos, e as redes sociais ajudam a divulgar o trabalho desses artistas, seja com um fank, rock, samba, pagode, MPB, axémusic, ou sertanejo. Ah! Os sertanejos, eles estão aí nas paradas de sucesso, numa profusão de duplas que surgem a cada dia, o que mostra que há espaço e gosto para tudo e para todos.
O que dizer da Baby do Brasil, que já foi Consuelo? Baby é um caso à parte. Incrível como essa artista se renova e se supera a cada dia, ou. melhor, a cada noite, porque ela é da noite. Com seus cabelos roxos e seu jeito irreverente, rompe as madrugadas fazendo shows, interpretando composições com toda garra e um fôlego de causar inveja a muitos jovens.
Lamentavelmente, perdemos, no ano passado, a sambista Beth Carvalho, referência quando se trata de samba. Cantora e compositora respeitadíssima no cenário musical, ela nos deixa um legado, que temos a obrigação de cultuar. Foram 50 anos de carreira de sucesso, dessa carioca da Gamboa que tinha o samba na veia. A voz inconfundível de Beth Carvalho ficará imortalizada nas músicas de seu repertório, que compõem dezenas de discos gravados por ela, que começou sua carreira ainda garota, com incursões na Bossa Nova.
E por falar em Bossa Nova, há de se registrar, mais uma vez, a trajetória daquele que tem seu nome inscrito na história da música brasileira: João Gilberto, cantor e compositor baiano, isso mesmo, baianíssimo de juazeiro.
Com um jeito particular de tocar violão, com uma batida suave, e cantando baixinho criou um gênero musical que influenciou fortemente o trabalho de muitos artistas, entre os quais, os integrantes da banda Novos Baianos.
Ícone da Bossa Nova, João Gilberto revolucionou a música brasileira e foi responsável pela sua divulgação no exterior. Nos deixa uma discografia diversificada, composta de 52 obras, entre as quais álbuns gravados ao vivo, discos de estúdio, compactos e coletâneas. Nunca é demais destacar a contribuição artística desse músico que nos deixou a marca da genialidade.
Que seu trabalho continue influenciando novas gerações. Essa é a nossa esperança.
É importante ressaltar a grande contribuição de artistas a exemplo de Tom Jobim, João Bosco, Geraldo Azevedo, Vinicius de Morais – o saudoso poetinha – que, em parceria com Toquinho, cantou as belezas da Boa Terra; entre muitos outros nomes que enriquecem a MPB.
Aqui, destacamos também o valor da autêntica música nordestina, reverenciando Luiz Gonzaga, o eterno Rei do Baião. O seu nome traduz bem a essência das festas juninas que sacodem o Nordeste de ponta a ponta, em homenagem aos santos Antônio, João e Pedro, ao som do zabumba, triângulo e sanfona.
Num verdadeiro contraste entre o tradicional e o moderno está a música virtual, onde os artistas e não são poucos, propagam suas vozes e se conectam com um público cada vez maior e aberto a novidades. São jovens que concentram seu trabalho nas plataformas digitais, mas também estão abertos a shows e discos (vinil e CD).
E assim vão surgindo novos talentos, mostrando que a música brasileira tem encantos para todos os públicos.
Enfim, boa música é aquela que a gente gosta, que nos enleva ou nos faz balançar o corpo, que nos transporta para um outro tempo e nos traz recordações. Música brasileira é isso aí, um campo vasto de experiências para quem está disposto a vivenciá-las.
Socorro Pitombo é jornalista
Novembro de 2019
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