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O feriado antecipado de São João não foi suficiente para satisfazer a ânsia junina na Feira de Santana. Lá fora, às vezes, ecoa um forró alegre no som de algum carro que passa. E, com alguma paciência, é possível flagrar fogos que arremetem para o céu avermelhado – as nuvens carregadas de chuva têm essa tintura rubra à noite – e se desfazem em luzes e cores. Mais frequentes são aqueles foguetes de três tiros que espocam, ecoando, distantes.
Os produtos típicos do período também já são visíveis nas prateleiras dos supermercados e padarias. Licores multicoloridos, pamonha embalada em palha de milho, amendoim e os bolos tradicionais do período – fubá, aipim, carimã – são encontrados com facilidade. Em alguns estabelecimentos, cartazes vistosos reforçam a lembrança do período festivo.
Como se sabe, a pandemia do Covid-19 levou os governos a antecipar o feriado de São João em nove cidades baianas. Além disso, aquelas festas tradicionais – que reúnem multidões – foram canceladas. Tantas novidades num intervalo curto desorientaram o instinto festeiro do feirense. Daí as temerárias celebrações, que se arrastam desde meados de maio.
É provável que muitos persistam nos festejos. Afinal, estão enfastiados com o isolamento social e buscam reatar, sofregamente, uma rotina que a pandemia esfacelou. Mesmo com o novo coronavírus aí na praça, firmando-se com a confirmação de dezenas de contaminações todos os dias.
Mas ainda bem que, mais uma vez, o prefeito Colbert Filho (MDB) decidiu prorrogar o decreto que mantém as atividades comerciais suspensas. Agora, a medida vale até 15 de junho. Serão mais oito dias para frear o avanço do Covid-19. É bom ressaltar que ninguém fica feliz com a decisão: o ideal é o comércio funcionando, com todo mundo trabalhando, ganhando seu dinheiro. Só que não dá para isso acontecer com o risco da expansão descontrolada da doença.
O número de casos cresceu muito ao longo da última semana. Provável reflexo do mês em que diversas lojas permaneceram abertas. E, agora, a rede de saúde aproxima-se da saturação. Caso tudo seguisse funcionando, seria o caos. Como aconteceu em algumas capitais brasileiras, é bom recordar. Manaus e Belém figuram como exemplos.
A prorrogação do decreto aqui na Feira de Santana é, portanto, sensata. Os danos sobre as atividades econômicas serão enormes, infelizmente. Mas é evidente que não há opções, nem meio-termo. Só nas mentes delirantes encasteladas no Planalto Central, que, pelo jeito, pouco se lixam para o risco de uma carnificina generalizada.
Passado o horror, com certeza todos retomarão suas atividades com apetite redobrado. Melhor uma aguda retração econômica que a catástrofe das mortes de centenas de milhares de brasileiros…
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