Aconteceu na década de 70, quando o milionário Xá Reza Pahlevi era o todo poderoso do Irã. E quando na Bahia ainda existia o chamado delegado “calça curta”, que não tinha a formação de Bacharel em Direito. Eram indicações político-partidárias.
E o embate e a desmoralização se deu justamente entre um delegado “calça curta” e um radialista, numa cidade do interior baiano que vivia tumultuada por brigas nos bregas, “pegas” pelas ruas, furtos etc.
O radialista, de grande audiência, todo dia bradava por segurança na cidade. Nada de pessoal com o delegado, não o desrespeitava, mas era contundente nas críticas à falta de ação do “calça curta”, nomeado pela família política mais poderosa da cidade.
Lá um dia, com a cabeça quente, o delegado invadiu a rádio e quebrou o radialista todo no pau, no ar, ao vivo. O rapaz ficou uns dois meses internado, não morreu por milagre.
Passados uns seis meses, o delegado estava lá numa das suas rotinas assinando, no fim do dia, vários atestados de pobreza, documento exigido na época para se conseguir certos benefícios sociais do governo. Um desses atestados foi parar nas mãos do radialista, que já estava de volta ao microfone da única rádio da cidade.
Aí veio a vingança: durante uma semana, o radialista desmoralizou o delegado, que assinou um atestado de pobreza em nome do Xá Reza Pahlevi, colocado sorrateiramente entre os vários que ele assinara.
Foi uma “surra” tão bem dada, que o delegado nunca mais nem pisou no passeio da rádio.
Edson Felloni Borges é jornalista, secretário de Comunicação de Feira de Santana