Será que algum dos candidatos à prefeitura da Feira de Santana é contra o reajuste salarial aprovado para o chefe do Executivo ano passado? Cultivo a dúvida desde o começo da campanha. Quem vencer a peleja de novembro vai entrar em 2021 com o bolso turbinado: R$ 26,7 mil mensais, bem mais que os R$ 18 mil pagos atualmente ao prefeito. Percentualmente, é um salto de 44,4%. O aumento foi aprovado em junho do ano passado – às vésperas do São João – para antecipar o desgaste, incinerá-lo nas fogueiras juninas.
Não é só o prefeito que vai se dar bem, não: os vereadores também serão agraciados com remuneração maior, embora com percentual mais modesto. Passarão dos atuais R$ 15 mil para R$ 18,9 mil. A farra, obviamente, não se encerra aí: os secretários municipais morderão os mesmos R$ 18,9 mil. Nem a pandemia da Covid-19 constrangeu as excelências a revogar a excrescência.
Quem acompanha o horário eleitoral fica até desnorteado com tanta proposta dos ariscos postulantes ao Paço Municipal. Há ideias factíveis, dignas de elogios. Outras merecem figurar no rico anedotário que se avoluma a cada eleição. A única coisa que une todo mundo – situação e oposição num mesmo balaio – é a má vontade de discutir os privilégios da classe política. O que inclui, claro, o generoso e indecente aumento autoconcedido.
Nota-se a mesma amnésia em relação aos candidatos à Câmara Municipal. Muitos são bizarros, tornam a campanha um deplorável quadro de humor. Entre eles – apesar da retórica carbonária de tantos, prenhe de moralidade, de ética, de elevadas intenções – não se toca na delicada questão dos privilégios do Legislativo. Pelo contrário, muitos contêm a custo a afoiteza de desfrutar dessas regalias. Mesmo vomitando bons costumes.
É bom lembrar que o Brasil está apenas começando a enfrentar os terríveis efeitos econômicos da pandemia do novo coronavírus. Recessão, desemprego, congelamento de salários e até cortes nos rendimentos tornaram-se rotina desde meados de março. Mas, pelo que se vê, só para o povão: aqui na Feira de Santana, dissimuladamente, a elite política aproveita para turbinar seus contracheques.
Depois vão para o horário eleitoral falar de gestão, competência, transparência, responsabilidade e muitos eteceteras. É bom votar só em quem assumir – publicamente – o compromisso de revogar esse reajuste indecoroso. Imagino que muito feirense pensa desta forma. Caso a indecente dissimulação prevaleça, certamente ela estimulará mais abstenção nas eleições.
Se isso ocorrer, não faltará cego atribuindo o desinteressa da população à pandemia da Covid-19…
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