Quando o ministro interino (tenho amigo que diz que ele é uterino e nunca me explicou o porquê) perguntou ao povo brasileiro “por que essa angústia e essa ansiedade”, para justificar a imensa demora do governo em começar a aprovar e a vacinar contra o coronavírus, justo quando o Brasil já passava de 180 mil mortos pela Covid19, lembrei de uma conversa com um maluco, que certa vez tive na porta do então INSS da Carlos Gomes. Era o ano de 1972 ou 1974, minha memória é fogo, eu tinha ido fazer uma reportagem para o A Tarde sobre as imensas filas que se formavam todas as madrugadas com a pessoas em busca de atendimento.
Entrevistei uma senhora que havia chegado às seis da manhã e não conseguira pegar a senha para entrada – havia se esgotado como até hoje ocorre nos centros de saúde – e ela já tinha ido outras duas vezes em horários diferentes. Falei com um jovem que estava buscando meios para a cirurgia da mãe e que conseguiu acesso pois dormira na fila, no meio do relento, tendo chegado às 2 da manhã, e todos se queixando da amargura que era ir para os médicos da instituição.
Foi quando eu vi uma pessoa que estava numa outra fila, já dentro do prédio e que quando chegava sua vez de ser atendido no balcão, dava o lugar para outra pessoa e voltava para o final da fila. Perguntei o que estava acontecendo e ele me disse que nada. Inquiri sobre o motivo dele estar ali e me disse que era para encontrar um médico para sarar uma dor de cabeça que sentia e também um zumbido no ouvido e retirar também a voz que ouvia de vez em quando mandando que fosse nadar no Dique do Tororó completamente nu – e me informou que já tinha sido preso umas dez vezes no nado estilo crawl, todo pelado nas bandas do dique.
Fui com jeito e procurei saber o motivo que toda vez que chegava a hora de ser atendido ele voltava para o final da fila e fiquei sabendo que ele estava ajudando as pessoas que tinham pressa. Ele não tinha nenhuma, pois não pensava em ir para lugar nenhum, não tinha endereço e ninguém o estava esperando. E completou com a frase justinha como a do ministro Eduardo Pazuello: “Para que o povo tem essa ansiedade? Para que o povo tem essa pressa?” Me perguntou, mandando que uma senhora passasse de novo na sua frente e ela meio que assustada quase não aceita, mas achou melhor encarar.
Daí que quando vi o ministro se recusando a responder a uma pergunta de um repórter na coletiva em que anunciou o Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação, que saiu do papel somente depois da reação popular e da pressão do Supremo Tribunal Federal, ele mal educadamente fingindo que não era com ele; e depois das sua absoluta falta de sensibilidade ao questionar a ansiedade e angústia que estão inoculadas na vida de tantas famílias que perderam seus entes queridos e têm medo de perder os parentes ou morrer, fiquei pensando: será que o ministro é maluco? Como Brasília é um lugar que, hoje, faria a alegria de qualquer alienista, vá saber. O senhor e a senhora não irão acreditar. Ele era cara e corpo do ministro. Cuspido e escarrado.
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