Nota Técnica Maio/Junho 2021 do Grupo de Análise dos Impactos da Crise da Associação Brasileira de Economistas pela Democracia
Com razoável alarde a grande imprensa noticiou, neste início de junho, resultados da apuração do IBGE sobre a variação trimestral do PIB brasileiro. Foi verificado um acréscimo de 1,2% no período compreendido entre janeiro, fevereiro e março de 2021 em relação ao último trimestre de 2020. A referência à variação trimestral, contudo, é pouco elucidativa quanto ao quadro geral da economia brasileira. À luz dos indicadores socioeconômicos oficiais e das ações governamentais dos últimos anos, não podemos ainda vislumbrar um horizonte, de curto e médio prazos, mais alvissareiro para o enfrentamento das dificuldades vivenciadas no Brasil, agravadas ainda mais pela pandemia de COVID 19.
Em 2020 o Produto Interno Brasileiro – PIB apresentou um desempenho negativo de -4,7%, interrompendo o já pífio crescimento observado nos anos mais recentes de 2015 a 2019 (-3,5% em 2015; -3,3% em 2016; 1,3% em 2017; 1,8% em 2018 e 1,4% em 2019), o pior desde 1996.
Neste ano, o PIB do setor dos serviços (que representou 72,8% do total) reduziu-se em 4,5%. O conjunto do segmento industrial caiu -3,5%, sendo que a queda da construção civil foi ainda mais expressivo (-7,0%), seguido das indústrias de transformação (-4,3%), e de eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (-0,4%). Segundo o IBGE a queda do PIB industrial foi pressionada especialmente pela produção automotiva, de outros equipamentos de transporte, da metalurgia, de máquinas e equipamentos e de artigos de vestuário. Somente as indústrias extrativas apresentaram crescimento positivo de 1,3% em 2020, diante da elevada produção de petróleo e gás que compensou a queda da extração de minério de ferro. O único segmento que apresentou desempenho positivo do PIB em 2020 foi o agronegócio, estimado em 2,0%.
Na ótica da demanda, o consumo das famílias em 2020 foi de -5,5% e o de gastos do governo de -4,7%, os piores desempenhos nos últimos 25 anos.
Esses números têm colocado a sinalização de que o auxílio emergencial aprovado pelo Governo em um valor bem inferior aos R$ 600,00 do ano passado será absolutamente insuficiente para minorar os impactos negativos da crise econômica, da crise do mercado de trabalho e da pandemia. Entretanto, essa questão central acaba diminuída em meio a uma complexa discussão orçamentária onde nada ficou muito evidente. Ao contrário, a nebulosidade das informações é absoluta, com a grande mídia e parlamentares falando abertamente em uma espécie de “orçamento paralelo” onde estariam as emendas parlamentares negociadas com o chamado “Centrão” visando a aprovação do orçamento – ou seja, existe nesse momento em vigor, uma espécie de orçamento fictício que pouco serve de bússola para mensuração dos gastos públicos e as reais opções de políticas públicas.
Em 2021, segundo o Boletim Focus divulgado pelo Banco Central, a expectativa é de que o PIB brasileiro deverá aumentar em 3,21%(1). Apesar disto, deve-se atrelar a expectativa de inflação interna que poderá ultrapassar a meta central de previsão de teto de 5,25 % diante da projeção para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ter subido para 5,06%.
Com vistas a conter a alta da inflação, através do BACEN, o governo optou por subir a taxa de juros SELIC com o objetivo de tentar conter a demanda interna, que seguindo as tendências de mercado vivenciadas em 2020 se encontra em patamar extremamente baixo. Além disso, a ação do BACEN de tentar conter o aumento da inflação via redução da demanda é equivocada à medida que esse aumento de preços deveu-se, em grande medida, à subida do dólar que onera substancialmente os preços de grande parcela de produtos consumidos internamente, a exemplo do óleo diesel e produtos derivados da soja, milho e da cana-de-açúcar.
Outro ponto importante aqui é que além da valoração do dólar internamente, e dos preços das commodities exportáveis pelo Brasil, que vêm se refletindo em aumentos de preços aqui dentro, no período recente verifica-se também uma alta de preços nos EUA. O índice de inflação de abril, que vinha sendo estimado em 0,2%, fechou em 0,8%, bem acima do estimado, registrando uma inflação de 4,2% em 12 meses. Esses números, além de acabarem se refletindo, pela dolarização dos preços na economia brasileira, também em inflação por aqui, abriram um debate sobre os efeitos da emissão de moeda e as políticas de expansão monetária nos EUA, e do pacote trilionário (US$ 6 trilhões) de investimentos públicos nos EUA e seus possíveis efeitos no cenário brasileiro.
Os dados mais recentes contidos na PNAD Contínua apontam na permanência da degradação do mercado de trabalho. Entre o último trimestre de out/nov/dez/2020 e jan/fev/mar/2021 houve um aumento de cerca de 880 mil pessoas desempregadas, chegando-se ao recorde histórico nacional de 14,8 milhões de pessoas desocupadas, que só não foi maior porque outras 6 milhões de pessoas encontravam-se na condição de desalentadas. Ademais, neste mesmo período, a massa salarial das pessoas ocupadas reduziu em R$ 3.159 milhões.
Assim, diante da realidade temporal vivenciada pela economia brasileira especialmente em 2020 e sua falta de planejamento e de perspectivas de curto e médio prazos e pelas incertezas da continuidade dos efeitos da pandemia pode-se esperar que no restante dos meses de 2021 a economia e a sociedades brasileira devam continuar nos mesmos (des)caminhos da realidade vivenciada em 2020.
(1) Segundo a atualização em 10/05/2021.
Grupo de Análise dos Impactos da Crise
Participantes: Adhemar Mineiro, Adroaldo Quintela, Antonio Rosevaldo Silva, Eron Maranho, Larissa Chermont, Nelson Le Cocq (coordenador)