Bié dos 8 Baixos lança primeiro disco da carreira (clique) trazendo uma mistura estimulante de samba rural embalado pela sanfona de 8 baixos. Patrimônio afetivo de Feira de Santana (BA), a música de Bié ganha seu primeiro registro de estúdio, lançado via o selo Banana Atômica.
“E os ‘povo’ ali só vende com a zoada… Quando não tem um som ali, ninguém vende! E quando tem um sonzinho, todo mundo vende ali… É carne assada, é cerveja, é tudo!”. É assim que Bié dos 8 Baixos explica suas apresentações no Centro de Abastecimento de Feira de Santana (BA), as quais perduraram por mais de 10 anos, até 2018, sempre às segundas-feiras, das dez da manhã até a “boca da noite”.
No meio de bancas de frutas, peixes, verduras e legumes, Bié fez de seu samba um patrimônio afetivo de Feira de Santana e que agora se expande para o Brasil e o mundo todinho por meio de Bié dos 8 Baixos, o primeiro disco de estúdio de sua carreira.
UYATÃ RAIRA
O lançamento é do selo feirense Banana Atômica e traz Uyatã Rayra como produtor musical. O disco funciona como uma história narrada e, ao mesmo tempo, evoca uma experiência próxima à audição de um vinil. Sabe aquela coisa de parar tudo que tá fazendo, dar o play e sair de si? Pois bem, Bié dos 8 Baixos é uma obra hábil em nos transmutar, a começar pela estética da capa, que nos remete aos discos mais antigos.
Outro aspecto que chama atenção no álbum é sua potência imersiva, isto é, o efeito magnetizante que o repertório de sete canções aplica sobre o ouvinte. Se feita uma escuta atenta, a obra te conduz numa viagem da primeira à última faixa, uma vez que o disco foi produzido para ser ouvido em sua totalidade, como se estivéssemos ali, ao vivo, em um “Samba de Bié”, em plena feira livre, onde todo mundo entra e se mistura, sem briga nem confusão.
É um som bom de se ouvir e se remexer – e na voz de Bié a gente vai conhecendo mais daquela brincadeira, embalando corpo e mente no “resfulengo” da sanfona de 8 baixos, que dá o tom e faz o cantar de Bié pulsar gostoso em nossos ouvidos.
O samba de Bié revela-se uma música universal e atemporal, que registra uma manifestação popular espontânea e já histórica, trazendo consigo vozes e movimentos corporais que transmitem sua arte independente de espaço e estrutura.
A música de Bié é só uma parte do todo que orbita ao seu redor e neste disco ele compartilha um pouco deste incrível universo conosco, um universo sonoro tão rico e saboroso como o próprio Brasil o é.
Vale destacar também a última canção da lista, “Fui na Macumba”, uma faixa bônus/surpresa cantada por Dona Santinha, proprietária da barraca do Centro de Abastecimento onde Bié tocava. A canção conta com o coro certeiro de Maiara do Carmo & Letícia Peixinho (Fogo Pagô), além da flauta e tuba de Nilton Azevedo (Orquestra Afrosinfônica). A colaboração eficaz das percussões do experiente Bel da Bonita (Africania) dão o mote da levada rítmica em todas as faixas do disco.A ficha técnica do disco conta ainda com a presença de velhos companheiros dos tempos do “Samba de Bié”, como Dedéu da Zabumba, Iraldino do Pandeiro e Eraldo Aboiador.
O disco Bié dos 8 Baixos tem apoio financeiro da Prefeitura de Feira De Santana (BA) através da Secretaria Municipal de Cultura Esporte e Lazer via Lei Aldir Blanc, direcionada pela Secretaria de Cultura do Ministério do Turismo, Governo Federal. Para assistir
O mini doc Bié dos Oito Baixos (2018), dirigido por Maria Eduarda e Uyatã Rayra, conta mais dessa história, trazendo nomes e trajetórias dos músicos que acompanham Bié nessa festa, uma manifestação de música popular orgânica que corre risco de ser interrompida recorrentemente pela direção do local. O motivo? O som alto. O curta é ótimo para visualizar os ambientes sonorizados no disco, a gente indica conferir um na sequência do outro para mergulhar ainda mais na obra de Bié dos 8 Baixos.