Todos os dias ia para a escola com as amigas, conversando, contando casos. No pátio, antes das aulas, cantávamos o Hino Nacional, e ai de quem esquecesse uma estrofe. Era palmatória na certa. No retorno era a tagarelice de sempre uma alegria! As pesquisas escolares eram feitas na Biblioteca Pública, consultando enciclopédias, não existia o google e outras facilidades.
Na escola a gente costumava colocar apelidos nos colegas, eu era a perna seca, mas tinha o balofo, o palito e por aí vai. Ninguém reclamava de bullyng. Nosso refrigerante era o Sukita ou suco de uva, um saquinho dava uma boa quantidade. De volta da escola, era a hora da merenda; vovó Belinha, mãe do meu pai era quem nos servia: pão com manteiga e açúcar por cima, com suco de uva.
A gente sabia quando o pão estava saindo do forno por causa do cheirinho que subia da padaria do seu Zé, que fazia esquina com a nossa casa, na rua Direita. Era só botar manteiga que derretia no pão. Hummmm…. e as queijadas eram maravilhosas. Na padaria de seu Zé, tinha um pão de sal e uns biscoitos deliciosos, além de sorvete de coco com doce de leite e sorvete de ameixa também. Vendia uma bala de nome café com leite.
A noite caía e era hora da brincadeira. Era cabra cega, chicotinho queimado. Também brincávamos de roda, tirando versos e outras brincadeiras com a criançada da vizinhança, até que chegava a hora de nos recolher, o que fazíamos a contragosto. Nos fins de semana, era a vez de brincar de teatro ou de cantoras do rádio. As músicas eram inventadas por nós. Imaginem as letras rsrsrsrs.
A gente também brincava de panelinha. Eu e minhas irmãs, além das amigas fazíamos cozidos de folhas nos frondosos quintais de nossas casas. As panelinhas de barro a gente comprava nas barracas da feira livre, que acontecia às segundas-feiras, e se estendia desde a praça da Bandeira até as proximidades do Hospital EMEC.
Nossos pais sempre presentes, educação começava em casa. E na rua se fizéssemos alguma bobagem, era beliscão, cascudo, ou o infalível “a gente conversa em casa”. Tínhamos hora para tudo, chegar em casa, tomar banho e sentar à mesa, E ai de quem dissesse alguma coisa. A hora do jantar era sagrada. Era a hora da sopa, café com pão e biscoito, que chamávamos de enche boca, porque era um biscoito fofo e bem grande. Essa bolacha, melhor dizendo, ainda hoje rende conversas entre nós, os irmãos.
Essas lembranças da infância me acompanham pela vida afora e hoje senti vontade de escrever sobre elas. Lembro que uma das minhas irmãs, já adulta, resolveu aprender a andar de bicicleta. Na primeira tentativa levou uma bela queda e esfolou os joelhos. Mas essa é uma outra história…
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