Quando o coração pode falar, não há necessidade de preparar o discurso.
A citação é de Gotthold Ephraim Lessing, poeta, dramaturgo, filósofo e crítico de arte alemão, considerado um dos maiores representantes do Iluminismo, defensor do livre pensamento e da tolerância religiosa. Não foi à toa que suas teorias influenciaram o desenvolvimento da Literatura Alemã moderna.
É nesta frase tão cheia de significados que eu me inspiro agora e é exatamente isso que vou fazer: deixar meu coração falar… Porque se eu fizesse um discurso nos moldes tradicionais, me limitaria a contar a minha trajetória profissional de 40 décadas nesta profissão que eu amo e por ela acordo todos os dias. Falaria de minha história nestes 41 anos vividos nesta cidade, com apenas três intervalos curtos, quando morei em Itabuna (duas vezes, também exercendo o jornalismo) e em Salvador, de onde voltei convocada para trabalhar no Jornal Feira Hoje.
Mas falar de mim não é tarefa fácil. Quem me conhece de perto sabe disso, porque essa habitual desenvoltura não passa de disfarce para uma timidez abrandada pelo convívio com a sala de aula, mas não eliminada. E vou deixar o coração contar a minha história de amor com as letras e com Feira de Santana por meio de algumas pessoas que contribuíram para que eu chegasse aqui.
Lembro que um dia Clériston Andrade, candidato ao governo da Bahia que morreu em um acidente de avião em 1981, interrompeu uma entrevista, se não me engano na cidade de Cafarnaum, e disse em tom solene: “Menina, você vai longe…” Eu acreditei! Hoje entendo que realmente o lugar em que cheguei é muito longe para uma menina que nasceu na roça, estudou em escolas públicas de um pequeno município, Conceição do Jacuípe, então Berimbau, e cursou o nível superior em universidade pública, a UEFS. Na minha cidade, sou vista como alguém que saiu em busca do sonho e deu certo. Eu confesso que isso é muito bom!
E pensar que tudo começou ainda na Fazenda Salgado, com o incentivo do meu pai, Amílcar de Jesus, homem que conheceu o mundo através dos livros, minha mãe Firmina, a sabedoria disfarçada de mulher, e minha primeira professora, mestra no mais amplo sentido da palavra, Olga Vital, lá do povoado de Picado. Aliás, esse é um momento propício para lembrar a importância de todos os professores que contribuíram para o meu aprendizado, nos livros e na vida. E eu faço isso em nome da professora Elza Santos Silva, que me ensinou muito mais do que as técnicas para elaborar um bom texto. A ela, todo o meu carinho.
Mas foi outro mestre que, durante o estágio no Jornal A Tarde do curso profissionalizante de Redator Auxiliar, do Colégio Estadual, decretou que eu seria jornalista. Tudo que eu sou na comunicação, do primeiro emprego como revisora no Jornal Folha do Norte aos cargos de diretora de jornalismo e secretária municipal de Comunicação, os prêmios que acumulei ao longo de minha vida e até esse título que recebo hoje, devo a ele. Tive grandes mestres no jornalismo, mas o mérito de meu sucesso profissional é, sem dúvida, de Zadir Marques Porto!
Como todo sábio, ele tenta se esquivar dessa responsabilidade. Mas em seu nome, Zamar, eu cumprimento e agradeço a todos os meus amigos e não somente jornalistas, colegas dessa labuta diária que é informar. Cada um de vocês que atenderam meu apelo para me aplaudir nesta noite tão especial sabe a importância que tem na minha vida. Um abraço aos meus parceiros da FTC – Faculdade de Tecnologia e Ciências – onde aprendo, a cada dia, a ser uma pessoa melhor. E, claro, meus colegas aqui da Câmara, da Prefeitura e de todos os lugares por onde passei.
O meu maior combustível sempre foram as palavras de incentivo e reconhecimento. Por isso peço licença para citar alguns nomes que precisam ser lembrados. Não todos, certamente, porque não há tempo para tanto. Mas não posso encerrar sem lembrar do velho Colbert Martins, um grande pai. Egberto Costa, o maior amor e melhor amigo. Socorro Pitombo, a amiga que faz tudo valer a pena. Neire Matos, parceira de vida. Jailton Batista, amizade a toda prova. Aparecida Machado, a pessoa mais generosa que eu conheci. Gilvan Brito e seu jeito peculiar de cuidar. Beatriz e Eveline, minhas meninas para sempre. Walter Xéu, meu irmão querido. Jair Onofre, de quem eu não pretendo me separar nunca! Maura e Cristóvão, companheiros de aventura na Chapada. Tarcízio Pimenta, reconhecimento profissional. Vera Rabelo e Iara Pellegrini, alegrias em terras grapiúnas ou em qualquer lugar do universo. Reginaldo Pereira, amigo desde sempre. Dimas Oliveira, relacionamento construído em bases sólidas. Rose e Lineia, tudo em dobro: amizade, respeito, carinho. Anchieta Nery, saudade que não tem fim.
Agora não vou citar pessoas, mas um grupo. No Whatsapp o nome é Pauta Livre. Somos todos jornalistas, trabalhamos juntos por aproximadamente dois anos e nunca mais nos deixamos. Uma vez por mês nos encontramos na casa de um, na casa de outro, em um bar ou restaurante. Às vezes falta um, faltam mais… Não importa. Estamos lá, firmes. Ninguém é obrigado, mas aniversário sem encontro? Não existe mais. Casa nova sem uma visita coletiva? Impossível. Fim de ano sem amigo secreto? Nem pensar. A essas pessoas eu devo a maior e melhor festa surpresa, em março deste, quando completei 60 anos. Cada um do seu jeito, um vai completando o outro e aproximando as famílias. Kenna, Beth, Dani, Ivanna, Bernardo, Lore, Linéia, mais Barretinho e Orisa e respectivos filhos, companheiros e companheiras. E alguns desertores. Gente, cadê Lucidalva?
Eu acho que nem deveria ter começado, porque a lista é extensa… Mas enfim, eu sou a soma de cada característica que melhor define os meus amigos. Todos. E olha que eu nem citei a família de oito irmãos, 35 sobrinhos quase filhos e 12 afilhados, todos igualmente amados, de perto ou de longe… Victor e Lílian, a vocês todo o meu carinho. E as cunhadas, aqui muito bem representadas pela minha comadre Julieta da Mata de Jesus.
Se me perguntarem se eu sou uma pessoa realizada, é claro que a resposta é sim. Mas eu ainda tenho sonhos e um deles é chegar o dia em que eu só vou divulgar boas notícias! A propósito, lá vai uma: A minha filha Hana Bárbara e meu neto Lucas são nascidos sob as bênçãos de Senhora Santana. E ano que vem chegará mais uma feirense para a família, Bruna: Vou ser vó novamente.
Aproveito este momento, que tem mais profissional de comunicação junto do que nas assembleias do sindicato, para lembrar aos companheiros de labuta jornalística, sejam iniciantes ou da velha guarda, como eu, um conselho de Machado de Assis para driblar a vaidade natural da profissão: Mais vale a crítica que constrói do que o ruído que lisonjeia.
Enfim, como costuma dizer minha amiga Socorro Pitombo, agradecer é preciso, então vamos lá.
Obrigada a Deus, por todas as bênçãos em minha vida.
Obrigada a vocês que estão compartilhando esse momento comigo.
Obrigada a Marcos Lima, pela relação de carinho e respeito.
E agora só me resta reafirmar o meu amor por essa cidade que, segundo Jânio Rêgo, outro que chegou aqui e nunca mais arredou o pé, não há “má fama” que tire a sua essência, nem tampouco seu brilho de princesa do interior e sua grandeza de metrópole.
Feira de Santana, o lugar que eu escolhi para viver!
Discurso proferido na sessão solene da Câmara Municipal do dia 4 de dezembro de 2018, quando fui contemplada com o Título de Cidadã Feirense.