Caminhoneiros autônomos prometem, mais uma vez, nova greve, agora para amanhã (01). Reclamam dos preços dos combustíveis e do abandono a que foram relegados por Jair Bolsonaro, o “mito”, a quem eles ajudaram a eleger com ostensivo entusiasmo. Tudo indica que a mobilização ficará muito aquém daquela de três anos atrás. Afinal, naquele momento, quem puxou a greve foram os patrões do setor de transportes. Uma greve patronal, portanto. Um locaute.
Naquela ocasião, a Feira de Santana foi um dos palcos da mobilização. Longas filas de caminhões e carretas formaram-se na BR 116 Norte, entre os bairros Campo Limpo e Cidade Nova e o campus da Uefs. O suporte à mobilização espantou: montaram-se toldos, distribuía-se água mineral, refeições, empresários ofereceram até pizza para os grevistas. O lema, candente, entusiasmou: “Somos todos caminhoneiros”.
As carrocerias de alguns caminhões abrigavam faixas improvisadas: “Intervenção militar já”. Será que a súplica vai se repetir agora? A greve é contra os preços dos combustíveis – particularmente o diesel – que são definidos pela Petrobras. Estatal, aliás, que foi aparelhada pelos militares no governo do “mito”. O presidente da empresa, a propósito, é um general.
Como se sabe, no poder, o “mito” tratou de adiantar o lado dos amigos empresários. Estes, hoje, não têm motivo para investir em locaute. Os autônomos, portanto, estão sozinhos. É improvável que cenas de desabastecimento se repitam e que o movimento se prolongue por muito tempo. A própria população – tão sensibilizada pela greve patronal de três anos atrás – não demonstra entusiasmo.
Tudo indica que os caminhoneiros, no máximo, repetirão aquelas paralisações pontuais de 2012, quando estacionaram às margens das rodovias, provocando longas filas e lentidão no trânsito. Por aqui, talvez nem isto se veja. Mesmo tendo sido tratados com deboche, desdém e escárnio pelos prepostos ministeriais do “mito”, tudo indica que, ano que vem, seguirão apoiando-o. Afinal, o importante é combater o “comunismo”. Mesmo com o diesel custando o olho da cara.
O drama dos caminhoneiros, é bom lembrar, é apenas mais um no leque das grandes tragédias brasileiras. Pandemia, inflação, fome, desemprego, corrupção, ameaças autoritárias, estagnação econômica, desmonte de direitos trabalhistas, precarização de serviços públicos, violência e descalabro ambiental são horrores muitos mais visíveis, que diluem o – real – sufoco dos caminhoneiros.
Assim, não somos mais todos caminhoneiros, conforme o lema do locaute de há três anos. Por mais justas que sejam as reivindicações da categoria.
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