Gradualmente a sociedade retoma a normalidade após a mais grave crise de saúde da humanidade. Pessoas e negócios se reerguem movidos pela esperança. Recomeços como este são oportunos para o desenvolvimento e aprimoramento de políticas públicas de combate ao consumo nocivo de bebidas alcoólicas. A indústria de destilados está ciente de que precisa continuar contribuindo —e de que está capacitada a fazê-lo de modo consequente e transparente.
Com a reabertura de bares, restaurantes, eventos e outros espaços de convívio social, esse tema naturalmente ganha destaque na arena pública, nacional e internacionalmente. Entidades relevantes como a Organização Mundial da Saúde fizeram dele uma de suas prioridades do ano. Discute-se, inclusive, a implementação de um plano de ação global para redução do consumo nocivo de bebidas alcoólicas.
Seu combate é —e sempre será— uma forte bandeira do nosso setor, comprometido com a saúde de seus consumidores, com o controle de qualidade de seus produtos e com o desenvolvimento sustentável da economia regional e de seus países.
A indústria de destilados não se furta de participar ativamente dos fóruns de debate sobre o consumo nocivo. Tem feito muitas e importantes contribuições. E é também por isso que ela se sente à vontade para agora levantar um sinal de alerta contra uma das medidas que passaram a ser cogitadas: a de que os operadores econômicos estão convidados a substituir, sempre que possível, bebidas com alto teor alcoólico por bebidas sem álcool ou com baixo teor em todo seu portfólio, com o objetivo de reduzir o consumo nocivo.
Tal sugestão não considera que o que realmente importa não é o tipo ou teor da bebida alcoólica, mas a quantidade de álcool consumida. Todas as bebidas alcoólicas, sejam elas de alto ou baixo teor alcoólico, contêm o mesmo princípio ativo, o etanol, que é processado da mesma forma pelo organismo. Independentemente do teor alcoólico, “álcool é álcool”.
No caso da América Latina, tal sugestão coloca em risco toda a cadeia produtiva de suas bebidas típicas tradicionais, como Cachaça, Tequila, Pisco, Rum, entre outras, que fazem parte do patrimônio de seus países. Representam sua cultura, projetam sua diplomacia e alavancam sua economia tanto no cenário regional quanto mundial.
Os destilados reconhecidos e protegidos como Indicações Geográficas, são patrimônios dos países e cuja qualidade, reputação ou outras características, como a sua importância histórica, estão essencialmente atribuídas à sua origem geográfica. São destilados únicos diretamente ligados a tradições locais e possuem inestimável valor nacional.
Por estarem ligados a tradições, os seus padrões de identidade são fatores que contribuem para a sua distinção e reconhecimento, como a matéria-prima, o processo de produção e o teor alcoólico.
Indicações Geográficas valorizam a propriedade rural e estimulam os pequenos produtores. Movimentam bares, restaurantes e hotéis. Geram emprego e renda. E resguardam identidades e tradições culturais, uma vez que as novas gerações percebem a sustentabilidade do negócio e se fixam na região, dando continuidade ao legado.
Preservar as características de produtos com esta distinção é primordial para a sustentação de toda uma cadeia de valor. Algumas modificações nas características das Indicações Geográficas de destilados, como a redução do teor alcoólico, descaracterizam o produto e desmontam a sua competitividade.
Mas não é só por esse motivo que a indústria de destilados aqui se manifesta. A sugestão de que a simples redução do teor alcoólico das bebidas ajudará a reduzir o consumo nocivo é temerária porque ignora a premissa de que o consumo moderado deve ser determinado, fundamentalmente, pela quantidade absoluta de álcool consumida, e não pelo tipo de bebida. Afinal, álcool é álcool.
Quando servidas da maneira adequada, todas as bebidas têm, aproximadamente, a mesma quantidade absoluta de álcool. Quantidade essa que acaba sendo reduzida quando se produzem drinques, por exemplo. A forma de consumo e a correta informação, considerando o princípio de equivalência, precisam ser o foco de toda política de moderação.
A bebida destilada com Indicação Geográfica é parte interessada no combate ao consumo nocivo de álcool e suas entidades representativas seguem à inteira disposição para colaborar com as autoridades dos países latino-americanos.
Em um momento em que se deve olhar para frente e desenhar um futuro melhor, fazemos o convite à reflexão conjunta com a sociedade sobre soluções viáveis e de fato eficazes.
Carlos Lima
Diretor Executivo do Instituto Brasileiro da Cachaça – IBRAC
Alfonso Mojica
Diretor Geral da Câmara Nacional da Indústria Tequilera – CNIT
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