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André Pomponet
quarta-feira, 6 de julho de 2022 / Publicado em Colunistas, Home

Digressão sobre os nevoeiros feirenses

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Oprimido pelo nefasto noticiário, matutei. Por fim concluí que, às vezes, é bom desenvolver uma fixação qualquer. Sei lá, alguma coisa que absorva, que exija dedicação contínua, que demande tempo, que distraia, que areje. Depois de alguma busca – tudo muito aleatório, sem grande lógica, é bom ressaltar – resolvi investir nos nevoeiros, nessa neblina que envolve parte das manhãs feirenses no inverno. Sumiram nos últimos dias, reapareceram, mas em junho foram bem intensos.

Reconheço que descrever nevoeiros é extravagante: quem navega pela Internet é pragmático, quer o noticiário útil, muitos desejam aprender a ganhar dinheiro, outros almejam emocionar-se com relatos de superação, com arrepiantes testemunhos religiosos ou, então, buscam o mero entretenimento.

Mas, mesmo assim, insisto nesta divagação. Numa manhã do fim de junho, por exemplo, a névoa foi se encorpando no começo da manhã. Sob as primeiras luzes da alvorada, parecia contida, comportada: restringia-se aos cumes dos edifícios, ao alto das torres de telefonia. O curioso é que, depois, a neblina foi se espraiando e tornou tudo um fantástico cenário esbranquiçado, irreal. O monótono casario feirense – são poucas as construções com muitos pavimentos – desapareceu, tragado pelo manto leitoso.

A observação contínua, todavia, permite constatar que há nuances na névoa. Não existe uma cor uniforme. No alto, brancura imaculada; onde se intuem os lombos das construções, tons mais encorpados; a meia distância, o cinza, uma coloração encardida que talvez misture névoa e poluição, os gases tóxicos dos escapamentos. Mas a visão é subjetiva: envolve o ânimo do observador, sua disposição de espírito, o próprio ângulo de observação.

Qual o valor da descrição de um nevoeiro numa manhã qualquer? Nenhum! Para que serve uma crônica extravagante amparada em lembranças mortas? Quem sentiu frio praguejou, ajeitou o agasalho, seguiu adiante com seus afazeres. Outros – quem pode – esticou a permanência na cama, aproveitando o clima ameno. Gente com inclinações poéticas e – talvez – crianças é que se encantam com esses fenômenos da natureza. São categorias com pouca voz nos ríspidos tempos atuais.

Há quem prefira repisar inflação, escândalos de corrupção – nem sufocando investigações conseguem mais escondê-los –, os mercadores da fé que apalpam verbas polpudas, a desfaçatez, o cinismo, a truculência, a implosão de quaisquer valores civilizatórios e – por fim – o mote supremo hoje: a morte na mais ampla acepção da expressão. Mas isso cansa, dispersa a fé no futuro, por mais excêntrica que seja essa confiança hoje.

A neblina confunde, atrapalha, transmite a sensação de cegueira. É gélida, fria. Mas é melhor empenhar tempo, dedicar atenção a ela, que enredar-se, todos os dias, nesse suceder de fatos desagradáveis, sufocantes. A contemplação da natureza atenua um pouco essa sensação de que se está – coletivamente – à deriva, sem rumo, cortejando a barbárie, o retorno às cavernas. Se estas não forem privatizadas, óbvio, como já tentaram.

Sim, é melhor dedicar-se à neblina, a uma árvore próxima, ao ir-e-vir da gente numa via ocasional. Qualquer insignificância é melhor que o horror que vai se descortinando, dia após dia, no noticiário, para desalento do brasileiro pacato, cidadão de bem, pagador de impostos…

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André Pomponet
André Pomponet
Economista pela Universidade Estadual de Feira de Santana (2002), mestre em Administração pela Universidade Federal da Bahia (2012), exerce o jornalismo desde 1995, quando ingressou no extinto jornal Feira Hoje. Posteriormente, atuou em outros órgãos de comunicação e foi Chefe de Redação da Assessoria de Comunicação Social da Câmara Municipal de Feira de Santana.É colunista do Blog da Feira.
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