Ontem (27) a prefeitura anunciou o cancelamento da Micareta extemporânea programada para setembro. A justificativa foi o aumento no número de casos de Covid-19 – a quarta onda está aí, à toda, embora menos letal por causa da vacinação – e o risco da disseminação da varíola dos macacos, doença que vem se disseminando mundo afora e que – tudo indica – está chegando com força também no Brasil. A medida é sensata, mesmo com muitas cidades anunciado a retomada de seus festejos.
No noticiário, o prefeito Colbert Filho (MDB) estava sob críticas incessantes desde que anunciou a intenção de promover a festa em setembro. O bombardeio começou na Câmara Municipal – o antagonismo ao Executivo, lá na Casa da Cidadania, é implacável, inclemente – e se espraiou pela cidade, reverberando na imprensa. As críticas foram se avolumando com inusitada acidez nas emissoras de rádio e tevê, nas plataformas digitais, na mídia impressa.
Parte dos críticos acenava com os riscos da pandemia como argumento. Eram os mais moderados. Outros, mais contundentes, apelaram para as carências na educação e na saúde, para a calamitosa situação das vias urbanas, das estradas na zona rural, para questionar as prioridades da gestão. A estridência, pelo visto, acabou intimidando o Executivo que, num primeiro momento, suspendeu a folia anunciada e, ontem, recuou em definitivo.
A decisão, à primeira vista, foi a mais correta, não apenas sob a perspectiva sanitária. Foi acertada, inclusive, politicamente. Tudo indica que, até a festa, o bombardeio político ia se intensificar. Cercada de incertezas e de riscos sanitários que ainda não se dissiparam, a Micareta tendia a ser um fiasco. No mínimo, não replicaria a animação das festas que se viam até 2019, o que amplificaria a sensação de fracasso.
De camarote – sem trocadilhos – os adversários acumulariam munição para intensificar o bombardeio sem trégua contra Colbert Filho. Principalmente os antagonistas na Câmara Municipal que encontrariam, talvez, um excelente pretexto para alimentar o clima de fim de mandato que se tenta consolidar desde o começo da gestão, paradoxalmente.
O fato é que não há demérito algum no recuo. Talvez tenha havido precipitação – isso sim – no anúncio da Micareta. Vá lá que a folia momesca injetaria algum ânimo na economia feirense, combalida com a pandemia e com o catastrófico desgoverno de Jair Bolsonaro, o “mito”. Mas, provavelmente, os desgastes decorrentes de um eventual repique da Covid-19 anulariam os frutos econômicos. Isso alavancaria a oposição – inclua-se nela, sobretudo, o amplo leque de críticos – antecipando as tratativas relacionadas à sucessão muncipal, que só acontece em 2024.
Em suma, o recuo foi um gesto de sabedoria do prefeito Colbert Filho, sob as mais distintas perspectivas. Melhor aguardar cenário mais favorável, possivelmente no mês de abril de 2023. Talvez, quem sabe, sob um clima mais arejado no Brasil, hoje tensionado pelos delírios da extrema-direita no poder…
- Bahia entre os primeiros da Série A após 23 anos - 09/12/2024
- Manifesto por mais decoração natalina - 25/11/2024
- A melindrosa tarefa de escrever - 19/11/2024