Nos primeiros anos da década de 70, o Rudela ganhou uma linha de ônibus direta para Salvador. Um avanço e tanto para uma cidadezinha localizada na divisa com Pernambuco, escondida do mundo. O progresso estava chegando, vibraram os rudelenses. O veículo, da empresa São Luiz, chegava à cidade às quartas-feiras e retornava aos sábados. Os cerca de 550 quilômetros, à época quase todos de terra batida, mesmo sendo a BR 116, eram percorridos em 18, 20 horas ou mais. Uma viagem com G.
Ir para Rodelas ou voltar era uma verdadeira maratona de paciência e teste para o corpo. Jovens e adultos chegavam afinal da viagem estropiados. Moídos. Além dos solavancos, catabios, o ônibus parava de quilômetro em quilômetro. O famoso e irritante pinga- pinga.
Outro problema era a superlotação – enquanto desse para entrar o carro parava, mais o calor – ar condicionado era coisa de ônibus de luxo, tornava o ambiente a antessala dos quintos.
Como era o único transporte para aquelas bandas, principalmente depois de Euclides da Cunha, o ônibus além de pessoas levava pequenos animais, entre uma e outra propriedade rural.
O problema da lotação piorou muito com a construção da nova cidade de Rodelas, a partir de meados dos anos 80, que levou milhares de trabalhadores para aquelas bandas. Era no ônibus que chegavam com suas malas, sacos e cuias ao canteiro de obras.
Quem viajou naquela época, deve recordar que aquilo não era aperto. Mais parecia uma lata de sardinha. Quem viajava sentado tinha que ser generoso e ceder o braço da cadeira para alguém descansar. O problema era quando este alguém cochilava e caia sobre quem estava sentado.
Problema maior era se o perdesse, porque outro embarque para a região apenas na sexta-feira à noite, no ônibus para Abaré, e descer na Barra do Tarrachil. Outra opção era Paulo Afonso. Mas naquela época o transporte entre as cidades era difícil.
Com o passar dos anos, o asfalto chegou a Euclides da Cunha, onde adormeceu durante anos. O retorno das obras aconteceu no governo de FHC, que levou a pista até a divisa com Pernambuco.
O primeiro motorista foi Crescêncio. Outros foram Airton, Nogueira, Antônio Grande Otelo. Os cobradores, que tinham que se espremer entre os passageiros, foram Silva, Agnaldo, Juliano, Zé Nilton de Hermes, entre outros. Todos fizeram grandes amizades na cidade.
Não era toda semana, mas o motorista, nos dias de folga, chamava a meninada para lavar o ônibus. Depois, dava uma volta pelos altos da cidade e retornava ao ponto de partida. Era grande a algazarra.
Batista Cruz é jornalista e publica esses textos na página Viva Rudelas no Facebook(clique)