O bairro Alto do Cacete, em Belém de São Francisco, poderia ser chamado de “Alto das Taipas”, dada a quantidade de casas construídas com esta técnica centenária. Moradores estimam que oito em cada grupo de dez residências são de taipa.
Casas feitas com varas e barros faz parte do dito conjunto de habitação subnormal. Vendo-a por fora, parecem ter apenas um vão, uma porta e uma janela. Mas há subdivisões no seu interior.
São baixas a ponto das suas telhas laterais sejam alcançadas apenas esticando os braços. Geralmente o piso é de terra batida – algumas são cimentadas. Não tem sanitário ou pia para lavar pratos,
Num rápido exercício de imaginação, pode-se relacionar o Alto do Cacete ao histórico povoado conselheirista de Belo Monte, que tinha, segundo descrição de historiadores, as casas semelhantes às do bairro belemita.
Formam a grande maioria das casas construídas no local. Estima-se que em mais de 80% delas foram usadas varas entrançadas e barro. Geralmente são feitas em animados mutirões.
Ruas inteiras nasceram e cresceram tortuosamente com casas de taipa emparelhadas. De uma ponta a outra. Como a do Prado, onde mora o jovem André Filho, que há poucos anos se instalou no local com familiares.
“Chegamos de outros municípios e não tínhamos como pagar aluguel. Viemos para cá onde construímos a nossa casa”. Mora com os pais e irmãos. Não ter como construir em outro local é uma história que se repete entre eles.
Outros parentes, pelos mesmos motivos, se instalaram nas ruas estreitas do Alto do Cacete, por onde raramente passam algum automóvel.
São várias centenas de imóveis cujos donos usaram esta técnica de construção rústica, contra uma centena, se muito, de casas de alvenaria, que se concentram na parte pavimentada mais alta do local.
Rede de esgotamento sanitário é serviço que ainda não chegou ao Alto do Cacete. Sanitário e banheiro, quando as casas os tem, são improvisados. Grande parte, quando da necessidade de evacuação, vai ao matinho.
Praticamente todos os moradores são de baixíssima renda ou são inscritos nos programas de repasses financeiros do governo federal ou sobrevivem da aposentadoria rural.
Casas de taipa é o que se vê nas duas entradas e saídas do bairro, que apenas recebe visita dos políticos à época de campanha eleitoral – o presidente eleito recebeu a maioria dos votos dos ‘alto cacetenses’.
Um antigo morador do bairro, que passa de três décadas, em tom de revolta, disse que quem tem casa de alvenaria são os puxa-sacos dos políticos locais. Ele pediu para não ser identificado – mas disse o nome.
Afirmou não entender por que as casas do programa federal Minha Casa Minha Vida não chegou ao Alto do Cacete, visto a quantidade de habitações subnormais que existe na localidade.
Para dar uma sensação de que vivem em casas de adobe, moradores rebocam as paredes de barro com massa de cimento e areia. Em outras apenas a frente é feita de tijolos ou blocos
Rebocar é uma medida de prevenção contra a presença do barbeiro vive nas brechas das paredes de taipa e, se contaminado picar uma pessoa, passa o parasita que provoca a Doença de Chagas, o inchaço do coração.
Há algumas centenas de metros do Alto do Cacete, …… mora no Alto Nova Olinda, que começa a ser povoado. Todas as 13 casas do novo bairro são de taipa. “É onde a gente pobre pode morar”.
O local tem energia elétrica, mas ainda está longe o dia que os moradores terão água tratada e drenagem. “Morar aqui não é fácil, principalmente pelo medo da picada do cascudinho”, diz o morador. “Quando ele pica, fica aquela rodinha avermelhada na pele”.
Um hectare de terra nas imediações custa na faixa de R$ 5 mil, onde dezenas de casas podem ser construídas. Todas de taipa, claro. Um vizinho dele, que reboca uma casa de taipa, abre um sorriso sobre a possibilidade de novos trabalhos.
Por que Alto do Cacete? O nome é auto explicativo. Mas é cada vez mais coisa do passado. Os tempos são outros. A sede da 2ª CIPM é bem próxima do bairro garante a tranquilidade.
Batista Cruz é jornalista. Esse texto foi publicado originalmente aqui