Há anos perdi o meu sotaque caatingueiro. Antes, falava ‘genti’, adotei o ‘tchi’ final. Deixei para trás parte da minha formação cultural. A forma de falar revela de onde a pessoa veio, qual a sua origem. A sua essência.
No Dia do Nordestino fiquei a maturar esta minha mudança na forma de falar. Não de comer. A carne de bode continua a minha preferida, o jerimum e outras verduras são bem vindos. A culinária continua imbatível.
Admiro pessoas que, mesmo escutado outros sotaques não perdem os seus. Como o meu irmão Anchieta Nery, Jânio Rego, e Júnior de Eufrosina, que morou uma vida por estas bandas, mas manteve-se fiel ao seu modo sertanejo de falar original.
Antes carregava nos erres de cerveja e do porque. Hoje tirei o peso deles, o seu som fechado. Os abri. Os perdi. Talvez o recupere se voltar a morar numa cidade interiorana ou a ouvir o sertanejês diariamente.
Gosto de ouvir moradores de Paulo Afonso conversando. É um sotaque diferente do que costumo ouvir. Às vezes passo minutos vendo-os conversar. É quase um retorno ao passado. Certa vez pedi para uma caixa de uma farmácia repetir o muito obrigado e volte sempre.
Ela repetiu. Mas duvido que entendeu o pedido estranho, que soou como uma música aos meus ouvidos.
Mas estranho mesmo é quando vou a Rodelas, meu torrão natal, e ouço jovens adotando o sotaque do ‘tchi’, entre uma palavra e outra. O sertanejês resiste, mas o novo é atraente.
Mesmo sem o sotaque original, continuou não apenas nordestino. Antes sou sertanejo e caatingueiro. Mais nordestino não posso ser.
Batista Cruz é jornalista