Há pouco acompanhei a final da Copa São Paulo, aquela competição de futebol que reúne atletas jovens do Brasil inteiro. Mais uma vez o Corinthians foi campeão, com a torcida protagonizando um belo espetáculo no “Itaquerão”. Bateu o Cruzeiro com um golaço no fim do jogo, adicionando o 11º título à sua galeria.
O perfil da torcida chamou atenção: majoritariamente gente preta e parda, essa que pega metrô, que frequenta os centros de comércio popular e que mora na periferia. Enfim, o povo. Pelo menos hoje saiu de cena a torcida endinheirada – e, quase sempre, branca – que, atualmente, frequenta os estádios brasileiros.
Não estou aqui para fazer a notícia do título corintiano, mas sim para confessar uma coisa. Ultimamente, não entendo bulhufas do que os comentaristas comentam. Acompanhei a transmissão pela internet. A equipe, com palavrório bonito, deixou-me constrangido com minha ignorância.
Até julgo que fiz uma leitura correta da partida. O Cruzeiro foi melhor, sobretudo no meio-campo. Criou as melhores jogadas, apresentou maior volume de jogo, mas não converteu sua superioridade em gols. O Corinthians foi lá – com sua conhecida mística – e fez um golaço no fim do jogo.
Não sei se os comentários convergiram com minha leitura – até fui editor de esportes no extinto Feira Hoje – mas ouvi expressões absolutamente enigmáticas. “Inversão de corredor”, “atacar a última linha”, “flutuação” e “gerar jogo” foram algumas dos termos intraduzíveis para minha ignorância.
Quem diria: o futebol virou coisa de acadêmicos, de gente letrada. Mas parece, mesmo, que o vocabulário do mundo corporativo – com seu ranço de autoajuda embutido – é a grande sensação do futebol hoje.
Modismos são comuns no esporte, mas de qualquer jeito parece que a turma anda exagerando. Engraçado é que boa parte dos acadêmicos da bola, pelo visto, nunca jogou futebol. Noto que não conseguem explicar, tecnicamente, porque um jogador acertou um chute ou errou um lance qualquer. Peladeiros experientes costumam explicar com clareza e palavras simples.
O futebol vem se tornando, cada vez mais, um grande negócio. Imagino que esse academicismo faça parte do invólucro do produto. Aquelas expressões antigas, de torcedores e boleiros da velha guarda, não devem soar bem mesmo explicando tudo e traduzindo bem para quem acompanha futebol.
É isso aí. Em nome do dinheiro, o vocabulário do boleiro tem que ser banido do futebol, assim como a gente preta e parda da periferia que já não pode frequentar as arquibancadas dos estádios. Hoje, na final da Copa São Paulo, houve uma grata exceção…
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