Bateu-me uma vontade, hoje, de falar sobre a Sexta-Feira, este dia mágico, não à toa cantado, em prosa e verso, como aquele que parece estar reservado para o resgate de algo muito, muito especial à vida humana: nosso direito, sagrado, e inalienável, de brincar. Brincar depois de tantas coisas que fizemos de obrigação, desde as primeiras horas da manhã de segunda-feira até após o expediente comum dos mortais, que se encerra por volta das 17, 18 horas, deste último, imaginário, desejado, sonhado dia de toda santa semana.
Sim, para além da Semana Santa, propriamente, toda semana é santa, desde que a tenhamos superado sãos e salvos. Voltemos à Sexta-Feira, nossa heroína sem capa nem máscara, aquela que vem para nos arrefecer a alma, depois dos benditos dias de trabalho duro – por mais prazeroso que possa ser, é trabalho!; de muitos pedidos e ordens, que a gente tem de dar ou receber, tanto faz; de muita informação ruim, uma ou outra fortuitamente alvissareira; de intermináveis reuniões; do trânsito caótico; de luta para melhorar os negócios, enfim, de toda essa rotina louca dos dias atuais.
Creio, do alto da minha ignorância, que, se não combatido, eficiente e indispensavelmente, na nossa Sexta-Feira, todo este estresse pode, sim, acelerar envelhecimentos, aproximar infartos, avc’s e outras consequências. Realmente necessitamos de momentos para relaxar, de um refresco!
Seja bem-vinda, então, nossa Sexta-Feira sagrada, com teus barzinhos, verdadeiros bálsamos, teu lombinho de cheiro irresistível, espetinho saboroso, queijinho tão macio, cerveja gelada também, porque não. Vem, Sexta-Feira, com o charme que te rodeia essa gente ávida por ti, bem vestida, perfumada, pronta para te desfrutar. Vem com tua música de todos os ritmos – apenas pega leve, eu te peço, em algumas “composições” que mais parecem escritos dos infernos e azucrinam nossos ouvidos.
Ah, Sexta-Feira, se tu falasses. Talvez eu te pedisse segredo, de muita coisa que já aprontei, sob o teu olhar parcimonioso e até cúmplice. Outras tantas aventuras que vivi, neste teu dia cuja noite é mais longa e reluta em permitir a chegada do sábado, teu filho primogênito, pediria que tu saísses espalhando por aí, inspirando a juventude a fazer um pouco do que fiz.
Te deixaria falar da minha “cadeira cativa” no antigo Garrafão, com seu telão exibindo Elton Jonh a cantar “Sacrifice”. Ou de minhas idas ao Néus Bar, com seu voz e violão onde desfilavam os melhores artistas feirenses; às vezes, optava pela insubstituível picanha de … ou pelo churrasco do extraordinário “Cortiço”. Era tudo maravilhosamente preparado por você, Sexta-Feira. Você é realmente linda e maravilhosa.
Mas tu não és nada, se estivermos, eu e tu sozinhos. O que seria de nós, sem a presença dos nossos amigos, neste teu dia destinado a divertir? São eles a razão de toda a nossa alegria. Familiares, é claro, são importantíssimos, mas não é deles que quero falar, neste quase término de tão mal traçadas e devassas linhas que meu coração quase me obrigou, hoje, a escrever. É muita coisa boa que gira em torno de nossas amizades e, infeliz, deve ser aquele que não tem amigos.
A Sexta-Feira é o dia da gente se “atualizar” com eles, informar e comentar os acontecimentos da semana. Bater aquela resenha sobre as coisas boas e ruins ocorridas no trabalho. Falar do que esperamos dos nossos times, na rodada do campeonato. Com os mais íntimos, confidenciar nossas paixões, o quanto estamos felizes ou o tanto que estamos machucados. Ainda há tempo: se você está saudável, combine com seus amigos, mate a saudade e aproveite da sua companhia. A Sexta-Feira lhes convida. E vocês merecem!
Assim, querida Sexta-Feira, encerro esta cartinha para ti, fazendo um pedido que, acredito, atenderás. Segues bebendo desta milagrosa água, que te garantes juventude eterna, pois enquanto tu estiveres firme e forte, estaremos nós a te acompanhar, inspirado em teu amanhecer sóbrio, teu anoitecer agitado e tão cheio de prazeres.
Valdomiro Silva é jornalista. Foi editor do Feira Hoje, fundou o Tribuna Feirense, ocupou a função de Secretário Municipal de Comunicação em Feira de Santana.
Valdomiro Silva, um dos maiores jornalistas da Bahia. Parabéns pela matéria.