Meio incrédulo, soube no fim da manhã de ontem (08) do falecimento da economista Maria da Conceição Tavares. Portuguesa – mas naturalizada brasileira – Conceição Tavares contribuiu decisivamente para a formação de gerações de economistas brasileiros. Ela, Celso Furtado, Ignácio Rangel e Carlos Lessa foram fundamentais para a interpretação da economia brasileira na segunda metade do século XX.
Essa contribuição foi essencial para que o Brasil superasse a condição primário-exportadora e diversificasse sua economia, industrializando-se e, em alguma medida, modernizando-se. O esforço de industrialização – que começou na Era Vargas há quase 100 anos – ganhou impulso adicional com o respaldo de estudos e do trabalho técnico de inúmeros economistas que pelejavam pela industrialização nacional.
Nas últimas décadas a questão industrial saiu de moda. É bom ressaltar que saiu de moda, mas segue essencial para se pensar o futuro de um País tão grande, complexo e diverso como o Brasil. Tempos atrás, pensava-se que o debate indústria versus economia primário-exportadora tinha sido superado. Engano: à medida que o agronegócio ganhava relevância, desmantelaram a indústria no País. Regrediu-se um século.
Ressurgiu, então, o debate – se é que pode ser chamado assim – sobre o protagonismo do agronegócio e da economia primário-exportadora. Lunáticos de extrema-direita gritam nas mídias sociais que o Brasil é o “celeiro do mundo”, que “nossa vocação é plantar”, que “o planeta depende da agropecuária brasileira” e por aí vai. Bens industriais? Compra-se lá fora.
Trava-se, assim, um debate raso, que se move sobre a superfície das coisas, sem mergulhar em sua essência. Os desastres ambientais, a ressurgência do protecionismo agrícola na Europa e nos Estados Unidos, a crescente dependência externa, o atraso tecnológico, nada disso figura nas discussões atuais que, em grande medida, não passam de bate-boca.
O fato é que a encruzilhada econômica – para só mencionar esta – em que o Brasil se encontra exige a releitura de grandes pensadores do naipe de Conceição Tavares e Celso Furtado. Dado o prolífico festival de sandices que se vê por aí, autores clássicos da economia brasileira tornaram-se, novamente, atualíssimos. Sobretudo para quem não conhece nada de História, sobretudo de História Econômica.
Devo muito da minha formação acadêmica e da compreensão da economia brasileira a Maria da Conceição Tavares. Seu falecimento deixa uma lacuna profunda. Deixa-nos, irremediavelmente, órfãos de sua sabedoria.
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