– P*rra de Olimpíada! P*rra de Olimpíada!
O sujeito encrespou, visivelmente chateado. Parece que fazia hora ali no Largo São Francisco, sob as esguias árvores catingueiras. Os galhos tênues das copas filtravam a luz morna do inverno. Bermuda estampada, camiseta reluzente do Fluminense de Feira. “Mas torço sobretudo pelo futebol feirense”, esclareceu, quando percebeu que o interlocutor examinava a camiseta.
Por que a chateação, afinal? Começou a explicação com um gesto de mão, os dedos calosos. “Feira de Santana não vai ter nenhum time na primeira divisão do Campeonato Baiano. Há quantos anos isso não acontece?”. Cravei 1999 – e só 1999 – lembrando da informação de um texto mais ou menos recente.
Ele assentiu, agradecido, e continuou: “Domingo [o papo foi semana passada] o Fluminense foi eliminado. Ninguém ligou, tudo continuou normal. Mas agora ta todo mundo aí, vendo p*rra de Olimpíada, empolgado”, esclareceu, exasperado. Para ele, a indiferença da cidade ajuda a explicar o fracasso do futebol local.
De fato, ano que vem a Feira de Santana não terá representante no Campeonato Baiano. O Bahia de Feira foi rebaixado, Feirense e Fluminense de Feira não conseguiram subir. O desportista feirense, portanto, verá a competição pela tevê em 2025. Para aquele interlocutor, grande tragédia, desgraça inominável.
“Tomei sol, tomei chuva, fiquei rouco de tanto gritar”, acrescentou, suspirando. Parecia ainda cansado, o olhar tristonho. Perdeu o ânimo para acompanhar as Olimpíadas – “Nosso futebol masculino não conseguiu nem chegar lá” – e acabou irritando-se, o êxtase dos vencedores parecia ofendê-lo, mesmo sem nenhuma relação com as desventuras feirenses.
Resta acompanhar o Campeonato Intermunicipal, ponderei. Não respondeu nada, dispensou-me com um gesto largo. Fui conferir os resultados do Intermunicipal, lembrei que, quando repórter do Feira Hoje, cobri a competição, em meados dos anos 1990.
“Como estará a Seleção Feirense?”, indaguei-me, antes da pesquisa na Internet. A competição começou em meados de julho e os resultados não são animadores: derrotas para Alagoinhas e Conceição da Feira; o único triunfo, no domingo, aconteceu porque Pojuca não compareceu ao estádio Joia da Princesa para a partida.
A atenta imprensa feirense registra que os jogadores não se dedicam apenas à competição: trabalham de dia e, à noite, comparecem aos treinos. É queixa antiga, lembro que o assunto foi matéria no Feira Hoje. Pelo jeito, o problema persiste até hoje.
Nos anos 1970 a Seleção Feirense era protagonista no Intermunicipal, tornando-se tricampeã, arrebatando os títulos de 1973, 1976 e 1978. “O maior campeonato de futebol amador do mundo”, dizia-se, com orgulho, antigamente. Mas isso faz tempo e pouca gente lembra. Aliás, pouca gente lembra do próprio Intermunicipal.
Não, é melhor que o antigo – e desolado – torcedor não acompanhe mais o futebol feirense neste fatídico 2024. É melhor aguardar 2025. E, por enquanto, acompanhar o futebol, sem grandes paixões, apenas pela tevê…
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