Hoje (18) a Feira de Santana chega aos 191 anos. Sei que deveria exalar otimismo, enxergar as virtudes da Princesa do Sertão, evocar sua vocação comercial, suas dimensões metropolitanas, sua condição de protagonista nos cenários baiano e – até – nordestino. Mas é sempre bom, também, enxergar suas carências, buscando contribuir para torná-la menos “descuidosa de sua beleza”, como bem diz seu hino.
Sei que são grandes as mazelas da Princesa do Sertão. Escolher uma delas é tarefa espinhosa. Mas, quando se fala de futuro, é bom ter em vista a questão ambiental. É tema recorrente e deve amofinar quem se arrisca a ler isto. Mas é assunto incontornável, urgente, assim como foi a pandemia da Covid-19 há alguns anos.
O último trimestre de 2023 foi tórrido na Feira de Santana. Depois vieram chuvas torrenciais e, por fim, um inverno frustrante. Quem plantou, não colheu no rural feirense. O quarto trimestre do ano aproxima-se. Virão, novamente, manhãs e tardes incandescentes? Ou cairão aquelas trovoadas cinematográficas? Ou ambas?
Três regiões do Brasil – Sudeste, Centro-Oeste e Norte – ardem sob queimadas, criminosas ou não, que tornam o ar irrespirável. Impressionantes nuvens de fumaça cobrem inúmeras cidades. Por aqui, esta catástrofe não chegou. Mas as terríveis mudanças climáticas alcançam todos, localmente temos o calor indescritível como tormento constante.
Todo esse palavrório é para ressaltar a urgência de se discutir os impactos das mudanças climáticas por aqui. A Feira de Santana não ficará imune, muito pelo contrário. Nas próximas décadas, muitas regiões do planeta – inclusive do Brasil – poderão ficar inabitáveis.
O semiárido nordestino – no qual a Princesa do Sertão está – também corre o risco de se tornar inabitável. Pessimismo? Delírio? Catastrofismo? Quem está atento aos sinais sabe que não. É urgente – imprescindível – incorporar o tema às discussões rotineiras, porque o futuro depende do que se fará a partir de agora.
As eleições municipais estão em andamento. O meio-ambiente é questão pouco discutida. A cidade, a propósito, sofre com a escassez de árvores, com o aterramento de suas lagoas, com o desmatamento indiscriminado. O problema é global, todo mundo sabe, mas muita coisa pode ser feita em nível local.
É bom começar a pensar – e se ocupar – com a questão a partir de agora. É ilusão pensar a Feira de Santana das próximas décadas sem considerar as urgências ambientais. Do jeito que as coisas andam, pode nem existir mais o sertão, como se conhece, já no final deste século. Com ele, a Princesa do Sertão. É o que apontam projeções de muitos cientistas…
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