Tema recorrente no noticiário são os famosos. Aliás, tema quase exclusivo. Se um deles aparece doente – com um câncer, por exemplo – haja matérias, manchetes, fotos, vídeos, uma sufocante visibilidade que deixa qualquer internauta zonzo. Nem precisa estar com câncer: qualquer problema de saúde já vira manchete, fotos antigas e atuais replicando-se vertiginosamente. Mas se a celebridade morrer, então, aí é que o noticiário fervilha, qualquer insignificância ganha manchete apelativa.
O problema é que não precisa nenhum problema de saúde para os famosos – incluam-se aí as subcelebridades – ganharem as manchetes. Um singelo procedimento estético viraliza logo, para usar uma expressão das próprias redes. Aí tome foto, tome título, tome texto curto, cheio de frases feitas.
Todo o noticiário, aliás, nasce de umas poucas fórmulas simples. Se algo mais complexo aconteceu, há logo um “entenda”; postagens de famosos nas mídias digitais tem um padrão quase universal: “X posta tal foto e recebe elogios”; Há sempre um “Y que polemiza” com uma foto ou um comentário; Também há o noticiário disposto em itens, com “Z” pontos que precisam ser entendidos pelo leitor.
Boa parte do noticiário hoje, a propósito, deriva de postagens em mídias digitais. Um famoso qualquer poste alguma coisa e logo o texto converte-se em “conteúdo jornalístico”. Nestes textos, sempre se apresenta uma biografia sumária da personagem, um ou dois parágrafos contextualizando o assunto e, às vezes, comentários pinçados de internautas ociosos.
Faz tempo que, no Brasil, cultura é coisa para classe média ou para rico; pobre chafurda no entretenimento, conteúdo produzido pela afamada “indústria cultural”. O jornalismo também avança na mesma direção. Imagino que, mais à frente, quem puder pagar vai dispor de informação; quem não puder ou não quiser, vai se virar com o noticiário sobre os “famosos” ou essas bizarrices que se vêem regularmente.
Até lá, uma transição importante vai se processar. Os jornalistas de carne e osso, em grande medida, vão perder espaço para a Inteligência Artificial, que vai produzir os textos consumidos pela patuleia. Aos poucos, vive-se essa transição, discreta e silenciosa.
Quase não se fala publicamente no assunto, mas muita gente já comenta por aí. Em suma: os textos sobre as celebridades produzidos por gente, hoje, amanhã será produto da famosa IA. Humanos? Só para pinceladas eventuais nos textos.
Mas isso é tema para debate graúdo, tocado por gente conhecedora da comunicação e da tecnologia. Por enquanto há apenas alguns sinais aí, à vista. O texto que aqui se arremata – curto, imperativo nesses tempos digitais – estertora. Divagação de quem está com preguiça de pensar. Então é melhor começar a pensar no fim de semana.
Sim, o fim de semana está aí e já começa amanhã.
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