A sociedade tinha nas salas de cinema a principal forma de entretenimento. O mundo mágico de Hollywood chegava até aqui, fazendo o público sonhar – chorar e rir – com filmes inesquecíveis. Para a gurizada, havia os filmes de faroeste, com duelos, assaltos a diligências, tiroteios com índios. Cine Teatro Íris, Cine Plaza e o gigante Santanópolis, depois Timbira. Um mundo que só quem viveu pode dimensionar!
A cidade já contava com duas salas de cinema. Na Avenida Senhor dos Passos estava o Cine Teatro Íris, que canalizava as atenções da sociedade local. O Cine Plaza, de menor dimensão, ficava localizado na Rua Desembargador Filinto Bastos (Rua de Aurora), onde, posteriormente, funcionaram os estúdios da Rádio Sociedade de Feira de Santana até o final de 1965. Nesse período, a Sociedade, comandada pelo frei Aureliano de Grottamare, transferiu suas instalações para a sede própria, na Rua Frei Hermenegildo de Castorano, bairro dos Capuchinhos, onde permanece.
Até a década de 1970, o cinema era o entretenimento principal da sociedade, que frequentava o espaçoso Cine Teatro Íris para viver o mundo de sonhos e fantasias proporcionado por Hollywood. Filmes de amor e aventura predominavam, com famosos galãs e mulheres belíssimas. Havia também os filmes policiais, alguns de intrincadas histórias, comédias, suspense e outros gêneros. No domingo, as matinês tinham um público definido.
Os filmes de faroeste levavam a gurizada ao Íris em verdadeira romaria. E a meninada não se limitava a vibrar com os mocinhos na luta constante contra bandoleiros, pistoleiros e índios. Eles se movimentavam na porta do cinema comprando e trocando revistas em quadrinhos. Rocky Lane, O Pequeno Xerife, Davy Crockett, Zorro, Cavaleiro Negro, Roy Rogers, Tim Colt, Monte Hale, muitos dos heróis da tela estavam ali nas páginas daquelas revistas. E tinha também o poderoso Tarzan.
Era uma verdadeira feira de revistas, que se repetia a cada domingo. Entre a meninada, não faltava a esperada figura do vendedor de caramelos com sua cesta cheia de doces e o atraente pregão: “baleiro, bala/ baleiro, bala”. Já no Cine Plaza, nas sessões noturnas, especialmente nas segundas-feiras, bons filmes traziam aventuras no mar com piratas, musicais e românticos, como opção para quem não quisesse ir ao Íris. O Semeador de Felicidade e Torpedo Room foram dois dos muitos filmes que marcaram no Plaza.
Mas, em 1958, o funcionamento do Cine Santanópolis, na Avenida Senhor dos Passos, prédio hoje ocupado pelas Lojas Americanas, veio aguçar ainda mais o interesse popular pela sétima arte. Com 1.500 poltronas, instaladas de forma a garantir comodidade e bem-estar ao público, ar renovado e tela gigante cinemascope colorido, o Santanópolis passou a centralizar as atenções como mais uma iniciativa do deputado Áureo Filho, que dotara a cidade do Ginásio Santanópolis. Na ampla sala de espera, muitos ficavam aguardando o início da sessão, olhando os enormes cartazes de filmes que seriam exibidos ou conversando sentados em confortáveis poltronas. Era o ideal também para o início de uma paquera, com pipoca, chocolate e a moda da época: mascar chicletes.
O Santanópolis mudou de nome, tornando-se o não menos charmoso Cine Timbira. Pode-se dizer que foi o último desses gigantes de uma era, assim como foram os dinossauros. Nessa magna sala, independente de bandeira (Santanópolis ou Timbira), foram exibidos filmes emocionantes que causaram muitas lágrimas e paixões. Mas tudo começava quando, antecedendo à película programada, havia um jornal com notícias nacionais e internacionais, incluindo o esporte, com cenários magníficos do Maracanã e estádios da Europa.
Independente dos filmes, artistas de destaque do cenário musical brasileiro ali se apresentaram para um público grandioso. Imortais da música popular brasileira como Cauby Peixoto, Nelson Gonçalves, Ângela Maria, Maysa Matarazzo, Miltinho, Trio Irakitan e, mais adiante, o “coronel Ludugero e Otrope” também pisaram no enorme palco do Timbira. Peças teatrais e outros eventos realizados nesse cinema deixaram para sempre um rastro de saudade.