Li Cem Anos de Solidão há muitos anos e assisti à série bem recentemente. Agora estou visitando o vilarejo onde minha mãe mora e vinha tentando entender a ebulição de sentimentos confusos que tomaram conta de mim, desde que cheguei. Uma ‘sensação de Macondo’. Esta é a melhor definição que consegui.
Gameleira. Distrito de Angical. Oeste da Bahia. Parte do primeiro assentamento de reforma agrária do estado. Prestes a completar 40 anos de história. Meus pais estavam entre os fundadores. O que já foi uma comunidade ‘simples’ e ‘fluida’ e fez parte da minha infância, ganhou complexas características de centros urbanos, mesmo ainda sendo uma pequena vila de zona rural.
Estar em casa hoje é ter, misturado no mesmo prato, o sabor doce do aconchego e pertencimento, com o amargo estranhamento diante das transformações. Não dá pra separar.
Muitos dos rostos vivos em minhas memórias já não podem ser encontrados em qlqr lugar. Outros, trazem marcas tão profundas, que quando me deparo, tenho vontade de rir e chorar ao mesmo tempo. E cruzo com tantos olhares novos pelas ruas, que não faço a menor ideia de onde eles surgiram. E as crianças? Elas se multiplicam tão rápido… Me esforço pra assimilar todos os nomes, árvores genealógicas… Não consigo. Algumas das minhas amigas se tornaram avós e eu confundo netos com filhos.
A minha Macondo mudou… mudou de um jeito que me assusta e me faz questionar se não sou preparada para as mudanças. Talvez o problema seja a forma ‘devastadora’ com que muitas vezes elas acontecem, atropelando paisagens e vidas
Sempre que volto à Gameleira, encontro sorrisos, muitos sorrisos! Abraços, café feito na hora e também muita dor. É uma sensação de vida real forte demais!
Orisa Gomes é jornalista em Feira de Santana.