
Da menina sapeca do bairro Sobradinho à diva da música feirense, uma longa caminhada marcada por vitórias e, naturalmente, momentos de tristeza, mas com um saldo altamente positivo. Não se trata de romancear, foi assim, ou tem sido assim, a vida de Dilma Ferreira Barbosa, para o grande público, Dilma Ferreira. Nasceu com uma estrela, ou foi buscá-la, caprichosamente, com obstinação, desafiando a tudo? Sem resposta. O melhor é conhecer sua trajetória e aplaudi-la!
No tradicional Sobradinho, quase a noroeste, na parte alta da cidade plana, Dilma fez parte de uma geração feliz que brincava nas ruas, jogava peteca, subia em árvores frutíferas, sem medo. Era uma época sem violência. Extrovertida, gostava de cantar e, assim, por volta dos 10 anos, já estava nos palcos – auditório da Rádio Cultura, na Rua Geminiano Costa, e auditório da Rádio Sociedade, na Rua de Aurora (Rua Desembargador Filinto Bastos). Ainda não era estrela, mas arrastava parentes, amigos e vizinhos para aplaudi-la. Já começava a brilhar!
Programas infantis como “Brasil de Amanhã”, com a professora Alcinda Dantas, na Rádio Cultura, e programas de calouros, incluindo adultos e crianças, como Turbilhão de Atrações, com Hiberlúcio Souza na mesma emissora, ou o show de calouros com Coelho Lima e Atrações J. Magno, com Joel Magno na Sociedade, e lá estava ela fazendo o público vibrar com sua interpretação cheia de alegria e ritmo. Aos 14 anos, voltou para o Sobradinho ‘na ponta dos pés’. Ganhara seu primeiro prêmio como cantora e deixara o público da Rádio Cultura encantado e certo de que ali estava nascendo uma nova estrela da música feirense. Na verdade, não se sentia só nessa aventura; além do seu pequeno fã-clube (ou fã-clube de pequenos, que era a garotada do bairro), tinha o respaldo do avô materno, que era bom sanfoneiro, e o pai, ‘seu’ Vavá Eletricista, destacado baterista. Uma família voltada para a música, como dizem alguns, ‘tinha o DNA’.
‘Madrugada’, composição do jornalista social Oydema Ferreira, garantiu a Dilma o primeiro lugar no Festival de Músicas promovido pelo Feira Tênis Clube em 1967. A guerreira estava consagrada, mas a vitória significava apenas a abertura de um caminho extremamente difícil, numa época de grandes intérpretes, e tudo se concentrava no eixo Rio de Janeiro/São Paulo, onde estavam as grandes gravadoras que ditavam o que ocorria no mercado musical. Era uma pista de mão única, tudo começava lá.
Confiante, em 1969, ela foi ao Rio de Janeiro e, no programa Cassino do Chacrinha (Abelardo Barbosa), na TV Tupi, ganhou o primeiro lugar com louvores da comissão julgadora. Em São Paulo, foi vítima de bairrismo. Vista como representante do Rio de Janeiro, ficou com o segundo lugar. Mas, como se diz que ‘para tudo tem jeito’, Dilma logo estava integrando bandas de sucesso na Bahia, como Os Dominantes, Sport Five, Os Formidáveis, Os Cadetes do Ritmo, Orquestra Los Mexicanitos e o famoso grupo Los Mariaches, que empreendia longas excursões por diferentes estados como: Alagoas, Sergipe, Pernambuco, Ceará, Minas Gerais, Goiás.
O Los Mariaches apoiava-se em um repertório ‘caliente’ de músicas caribenhas: mambos, salsas, boleros-mambos, rumbas e chas-chas-chas, incluindo alguns sambas e canções românticas, ritmos que levavam o público a dançar. A trajetória do grupo foi de muito sucesso. Dilma casou-se com o pernambucano Evanildo, músico polivalente que era organista, clarinetista e acordeonista, integrante do Los Mariaches. Viúva, com três filhos – duas mulheres e um homem -, manteve a carreira com altivez. Graças a sua vitoriosa caminhada, foi eleita Rainha do Rádio e Rainha das Atrizes.
Da longa jornada em palcos pelo país, ela recorda com saudade e alegria ao mesmo tempo, pela oportunidade que teve de conhecer e cantar ao lado de Níbia Lafaiete, Nelson Gonçalves, Ângela Maria, Cauby Peixoto, Emilinha Borba, Trio Irakitan, Agnaldo Timóteo, Nando Cordel, Waldick Soriano e outros grandes nomes da música brasileira. Em 1997, Dilma Ferreira lançou o CD *Fascinação*, que obteve sucesso e foi muito executado em emissoras baianas.
Com o tempo, foi adaptando o repertório, atualizando-o, incluindo novas composições e, ultimamente, tem reduzido o ritmo de trabalho, mais voltado para alguns eventos sociais. Com quatro CDs lançados e consagrada como a ‘diva da música feirense’, Dilma Ferreira, irmã de outro grande nome da música baiana, Djalma Ferreira, é adepta do Seicho-No-Ie e busca mais a espiritualidade, mas sempre alegre e atenciosa, mantendo muito da vivacidade da infância. Cantora oficial do Bloco Bacalhau na Vara, se for preciso, ela estará na avenida, mantendo a tradição do bloco na Micareta. É assim a menina do Sobradinho, Dilma Ferreira!