
Feira acordou triste, com a notícia do falecimento do querido Bel da Bonita, nesta manhã. Um ser humano luminoso, artista admirável, raiz, de bela inquietação e latejante como as manhãs de nosso Sertão; movido — e movendo — a sua música pela força de nossa ancestralidade, carregada em toques respirados, inspirados e originais das falas certeiras de nossa gente: passando na capoeira e comendo licuri de montão…
Seu Bel, percussionista poético e estridentemente sereno, navegou pela arte também como compositor, arranjador e “inventador” — quebrador de muros, foi ponte entre os mundos da música, entre tempos, entre culturas e irrupções. Um mestre autodidata que aprendeu a bater seu pandeiro observando os ritmos do coração e das festas de santo e lavrado, em Queimada Bonita…
Músico por essência, transformou vivência e empatia com nossas raízes em expressão artística autêntica e potente. Sorria com os negros sorrindo e sentia saudade quando estava — ou imaginava estar — longe da Bahia…
Sua trajetória em Feira e no planeta é memorável e bem tatuada na história de nossa cultura — com a Banda da Paz, e ao lado de grandes nomes da música feirense, baiana e brasileira. Sua atuação no grupo Africania é um marco impactante, suculento e original, misturando samba rural com legados e legendas rítmicas do Recôncavo, raízes africanas e uma sinergia própria de quem sabia onde estava, de onde veio e para onde estava indo…
Seu legado vai seguir. Sua escrita está feita — e vai preenchendo as almas e olhos que empurram sonhos, corpos em dança e pulsação…
Bel, sua música está viva, e seu povo de companhia vai continuar resistindo. Seu coração não vai parar de bater!
Vai em paz. Vá para o andar de cima, vá para a outra etapa da existência com o dever cumprido — e deixando saudades entre os de cá…
Zé Neto é advogado, deputado federal, baiano de Feira de Santana.