
Um sindicato que questiona por que colegas de trabalho — igualmente servidores públicos — passaram a receber um benefício trabalhista. Parece absurdo, mas foi exatamente isso que fez o Sindicato dos Servidores da Universidade Estadual de Feira de Santana (Sintest/Uefs) ao enviar ofício à Secretaria de Administração do Estado da Bahia (Saeb), no dia 25 de março, mas que veio à tona em grupos de redes sociais de servidores nesta quarta-feira (15), pedindo explicações sobre o pagamento de auxílio alimentação a servidores não filiados.
O documento, assinado pela direção do sindicato, parte do pressuposto de que apenas filiados em licença para cursos deveriam ter acesso ao auxílio — amparando-se em uma decisão judicial. Mas a postura do SINTEST extrapola o campo jurídico e entra em um terreno ético e político perigoso: o da exclusão institucionalizada, promovida por quem deveria justamente lutar pela inclusão e ampliação de direitos.
Historicamente, os sindicatos surgiram para defender a classe trabalhadora em sua totalidade, não apenas os que assinam ficha de filiação. E embora juridicamente algumas ações possam beneficiar somente os filiados, o papel político da entidade é exatamente o contrário do que fez o SINTEST: deveria pleitear a extensão do direito a todos os servidores, em vez de questionar por que mais trabalhadores passaram a ser contemplados.
A ação da entidade reforça uma imagem que há muito tempo incomoda parte da categoria: a de um sindicato por vezes mais próximo do empregador — o Governo do Estado — do que dos próprios trabalhadores. Questionar o ganho de um colega de trabalho, em vez de lutar para que todos tenham o mesmo direito, é uma atitude que flerta com o corporativismo excludente, e não com o espírito sindical.
A direção do SINTEST pode alegar estar apenas exercendo seu direito de peticionar, mas a pergunta que precisa ser feita é: a quem serve esse tipo de questionamento? Certamente, não ao servidor público, que vê o auxílio alimentação como uma necessidade básica, sobretudo em tempos de inflação alta e arrocho salarial.
Ao tentar restringir um benefício em vez de ampliá-lo, o SINTEST dá as costas ao princípio da solidariedade de classe e alimenta divisões prejudiciais dentro do próprio serviço público. Mais do que nunca, é preciso lembrar: a função do sindicato é construir pontes, não muros.
Excelente artigo, concorde plenamente, parabéns!!!!