Manoel Torquato era um homem calmo, temente a Deus, Sua casa sempre pronta para receber os irmãos para os cultos da boca da noite, quando as pessoas se espremiam pela sala e se acotovelavam pela janela, do lado de fora, já na rua, para ouvir a pregação.
Era homem de poucas posses. Seus pais, pequenos proprietários, continuaram agarrados à terra, buscando a sobrevivência, junto com seus irmãos, do mesmo jeito que fizeram seus avós e para trás, todos os outros a perder de vista.
Manoel Torquato mudou de profissão. Foi ser tropeiro, tanger burros, que levam os caçuás cheios de miudezas que ele vendia nos lugarejos por onde passava. Daí tira o seu sustento e o de sua família Assim vivia.
Em Mossoró, tinha sua residência onde descansava as pernas e descarregava a poeira das estradas. Mossoró tinha o maior comércio da região onde ele abastecia os caçuás para novas caminhadas.
Corria o ano de 1927. De todo lado vinham notícias de bandos de cangaceiros percorrendo a região fronteirinha entre o Ceará, a Paraíba e o Rio Grande do Norte. Até se dizia que eles faziam mesmo era atacar as cidades perto do Ceará, sempre voltando pra lá, pois lá tinham guarida. Diziam até que o próprio Governador era coiteiro desses homens. O que se sabe é que em 1924, quando a Coluna Prestes se avizinhava em sua marcha pelo Sertão, o próprio Padre Cícero do Juazeiro, com ordens do governo, chamou Lampião e lhe deu patente de Capitão para combater a Coluna.
Corria o ano de 1927. Manoel Torquato está em Mossoró.Véspera de viagem, vai ao comércio completar seus estoques de miudezas. Havia notícias de que o bando de Massilon tinha atacado a cidade de Apodi e que Lampião se encontrava nas proximidades de Mossoró.
Manoel Torquato saiu na madrugada em direção a São Sebastião, atualmente Governador Dix-sept Rosado. Na primeira noite encontrou o bando de Lampião e foi feito refém. Conseguiu fugir, deixando os animais e todo o carrego, todo seu capital. Chegando em Mossoró, procurou emprego na salina.
Trecho extraído do livro “O Sindicato do Garrancho”, de Brasília Carlos Ferreira, quarta edição.