
Durante um pool de rádios, em Feira de Santana, na manhã da última segunda-feira(1), o ministro chefe da Casa Civil, Rui Costa, fez uma declaração que praticamente “sepulta” o projeto do Trem Feira-Salvador. Rui foi didático ao lembrar que ferrovia de passageiros raramente se paga com tarifa, mesmo em países que investem pesado em trilhos.
O recado é simples e contundente: sem subsídio público expressivo nenhum trem se sustenta apenas com bilheteria. Esta é a regra predominante no mundo e o ministro tratou de recolocar o debate no terreno da realidade orçamentária brasileira.
Ao mesmo tempo, ele retomou uma linha de raciocínio antiga na Bahia; Aproveitar a malha da Ferrovia Centro-Atlântica, redirecionando o contorno em Cachoeira para captar Feira de Santana, combinando passageiros e carga para viabilizar a conta. A ideia não nasce hoje e, segundo ele, já foi aventada no debate público e mira uma solução onde a receita de carga ajuda a fechar o modelo econômico.
“Quando essa ferrovia que vem lá de Brumado, chamada Centro Atlântica, vai para o porto de Aratu, ela faz o contorno em Cachoeira. Tem aquela ponte que tem um trem de contornar. Trazer essa linha de trem e em vez de descer para Cachoeira, passar por Feira de Santana. Esse, nós entendemos que é o melhor traçado. Está sendo estudado, porque você combina o trem de passageiro com o trem de carga”, disse.
Do outro lado está a proposta da TIC Bahia, que devolveu fôlego ao imaginário ferroviário. O desenho fala em 98 km de trilhos, operação mista, até 160 km/h para passageiros, 120 km/h para cargas, 10 estações e promessa de reduzir a viagem para algo em torno de 35 minutos. O custo estimado gira em R$ 6,8 bilhões e o projeto passou por etapas de avaliação técnica na ANTT, seguindo para o Ministério dos Transportes. É um pacote atraente, com números fortes para convencer público e investidores.
Aqui está o ponto de atrito. A fala de Rui Costa não contesta a engenharia, contesta o caixa. Se o investimento original tende a ser público e a tarifa cobre só operação e manutenção, a equação financeira da TIC Bahia perde tração sem um compromisso explícito de subsídio e de prioridade orçamentária. Em outras palavras, não basta “aprovação técnica” ou “potencial de demanda”. É preciso responder quem põe o dinheiro de verdade e com qual cronograma.
O discurso do ministro funciona como um balizador que, na prática, esvazia o projeto tal como vem sendo apresentado ao debate. Ele não fecha a porta para um trem Feira–Salvador, mas empurra o tema para um modelo ancorado em decisão fiscal, integração com carga e uso inteligente da infraestrutura existente. Esse caminho é mais árduo politicamente e mais lento, porém é o único que conversa com as restrições do orçamento e com a experiência internacional.
Em suma, Rui Costa puxou o freio da euforia e devolveu o trem ao trilho do realismo. O projeto da TIC Bahia continua vivo no papel e em tramitação, mas ao que parece, até aqui, está no limbo das boas ideias irrealizáveis.
Dandara Barreto é jornalista e radialista