
Em junho o governo Lula (PT) parecia emparedado de maneira irreversível. Os preços elevados dos alimentos, a inércia da gestão, ancorada em feitos passados, e a visível letargia do primeiro escalão, pouco reativo às intempéries políticas que se sucediam, sinalizavam para um longo e melancólico fim de governo. Embora sem nomes consistentes escalados para a sucessão, a oposição parecia favorita, fadada à vitória em 2026.
Mas, eis que surge, lá nos Estados Unidos, Donald Trump. Com suas indisfarçadas intenções de impor à força a reabilitação política de Jair Bolsonaro, o “mito”, o mandatário alaranjado impôs taxações às exportações brasileiras e retaliou integrantes do Supremo Tribunal Federal. Sem cerimônia, nem disfarçou seu desejo de intervir em assuntos internos brasileiros.
Lula ganhou de presente o discurso da soberania, do patriotismo e da defesa dos interesses nacionais. Até aqui, vem funcionando, traduzindo-se em redução nos índices de rejeição. É bom lembrar que, desde junho, não houve muita mudança no governo. O que o favoreceu foi a percepção pela população de que os adversários de Lula são muito piores que ele.
É bom lembrar que este cenário é momentâneo. Há incertezas no horizonte, significativas. Em condições de relativa normalidade, Lula chegará competitivo, dependendo dos resultados da economia, sobretudo dos preços dos alimentos. Mas apostar em normalidade no turbulento ambiente em que a extrema-direita ameaça a democracia é otimismo exagerado.
Ontem (9) mesmo, uma porta-voz de Donald Trump ameaçou o Brasil com sanções militares. Truculência deste naipe não se vê há décadas. Provavelmente não passa de bravata, corriqueiras na extrema-direita histérica. Mas é indiscutível que, mesmo meramente retórica, a ameaça traz mais instabilidade ao ambiente já conflagrado.
Note-se que, embora o julgamento dos golpistas esteja em andamento, a tentativa de golpe não cessa. Afinal, no domingo (07), data em que se celebra a Independência do Brasil, houve comícios com novas ameaças à democracia brasileira. Em São Paulo, estenderam até uma bandeira dos Estados Unidos.
Arriscaria dizer que, sob condições de normalidade democrática, Lula desponta como favorito, até por não dispor de adversário à altura. Mas isso – reitere-se – sob condições de normalidade democrática…
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