
Amanhã a Feira de Santana completa 192 anos. Quase bicentenária, – chegará na data redonda no começo da próxima década – a cidade contará com uma ampla programação para marcar a data. Missa, sessão solene do Legislativo, entrega de comenda, visita a casarão histórico e ponto facultativo para o funcionalismo. As celebrações, aliás, começaram com festiva sessão especial em Brasília, na Câmara dos Deputados.
Os potentados políticos e empresariais locais estão em Brasília. Há uma pauta abrangente, ambiciosa, a ser apresentada aos mandatários do Planalto Central. Entre os itens estão a ampliação e o funcionamento do aeroporto, a requalificação do centro da cidade e a implantação de uma Ceasa fora do perímetro urbano. Há – refulgente! – outra requisição: a implantação da tão sonhada Universidade Federal de Feira de Santana.
Todas estas pretensões são meritórias, elogiáveis. Sem dúvida, ornam com a cidade que flerta com o seu bicentenário. Mas o rol de necessidades da Princesa do Sertão não se esgota aí. Há uma série de carências que afetam mais diretamente a vida da população, sobretudo na saúde e na educação. Deveriam ser priorizadas.
Será bonito ver a Feira de Santana brilhando com duas universidades públicas, a Uefs e uma nova instituição federal. Isso sem mencionar as faculdades privadas que alargam o mercado aqui na Princesa do Sertão. Mas é necessário também – essencial – olhar para a base, para as séries iniciais da educação, sobretudo no sistema público.
Hoje a Feira de Santana não tem muito do que se orgulhar. Basta conferir os números recentes do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, o Ideb. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) disponibiliza essas informações para os anos recentes.
No anos iniciais do Ensino Fundamental, na rede municipal, o desempenho não anima. A nota em 2023 foi 4,4, bem longe de Licínio de Almeida (7,8) e de Itatim (7,7), as mais bem posicionadas. Entre os 417 municípios baianos a Princesa do Sertão ocupa uma modesta 316ª colocação. No cenário nacional o vexame é bem maior: apenas a 4795ª colocação. Pires Ferreira, no Ceará, é o município nota 10 no Ideb.
O IBGE disponibiliza também a nota do IDEB de 2005. Na época, a Feira de Santana ostentava nota inferior (2,8), mas posição relativa melhor: 127ª na Bahia e 3071ª no Brasil. Ou seja: a nota subiu, indiscutivelmente, neste longo intervalo. Mas centenas de municípios na Bahia e quase dois mil no Brasil obtiveram notas melhores.
O problema também é que o momento da Feira de Santana no exame não é bom. Em 2019 – pouco antes da pandemia – alcançou o melhor desempenho do histórico: 4,8, superando os 4,4 de dois anos antes, 2017. Só que, ao longo da pandemia e depois dela, a nota caiu e não retornou ao patamar anterior. Ou seja: a Princesa do Sertão regrediu em termos absolutos.
Já disse que é muito bonita a luta por uma universidade federal aqui na Feira de Santana. Bonita e evidente, implantar universidade costuma garantir grande visibilidade. É o oposto da educação nos anos iniciais da rede pública, que acontece em bairros pobres e periféricos, quase anonimamente. A questão é que os alicerces de qualquer sociedade próspera e moderna devem ser construídos exatamente nestes ambientes. De que adiantam pomposas universidades se das escolas públicas não sai gente em condição de cursá-las?
Infelizmente a discussão sobre a Feira de Santana em seu período natalício se resume às grandes obras. Não se fala dos mais pobres, nem de uma cidade mais inclusiva ou menos desigual, nem mais competitiva, com mão de obra qualificada. Os problemas não se esgotam nos anos iniciais, no entanto. Mas isso é assunto para um próximo texto…
foto: Secom/FSA
- Feira bonita na educação superior, mas feia no ensino fundamental - 17/09/2025
- Reforma administrativa na surdina - 16/09/2025
- O Grande Recôncavo de Milton Santos - 12/09/2025