Em meados dos anos 70, um jipe fretado na Barra do Tarrachil, povoado de Chorrochó, cerca de 30 quilômetros, entrou em Rodelas e se dirigiu até a rua do Garguelo, depois de o motorista perguntar a moradores a sua localização. Do veículo, parado à frente da casa de Mané de Dona, desceu um homem branco, de cabelos grisalhos e de forte sotaque carioca carregado, nunca antes ouvido na cidade.
Pausa.
Santo Agostinho, um dos teólogos mais populares da Igreja Católica, escreveu: “só se ama o que se conhece”. Foi o primeiro contato físico entre Lourdes de Mané de Nana e Rui, que se conheciam por cartas e fotografias. Começava ali o contraponto à conhecida frase. Eles nunca tinham se visto, mas gostaram um do outro. Se casaram algum tempo depois.
Retorno.
Lourdes e Rui se conheceram numa espécie de classificados amorosos comuns na época, que revistas nacionais de fofocas centradas na vida de artistas famosos, publicavam. Os solitários ou interessados em encontrar a alma gêmea escreviam para as redações destas publicações. Nas linhas, descreviam o par ideal e falava as suas qualidades. A parte interessada entrava em contato com a pessoa escolhida.
Os primeiros contatos eram por meio de cartas – perfumadas, imagina-se, como convém ao momento. As declarações de amor, quase sempre frases feitas, eram lidas e relidas dezenas de vezes, com o coração palpitando – não batendo. Os papeis eram guardados como tesouros.
As cartas ou telegramas eram os contatos iniciais – naquele tempo telefone apenas nas cidades maiores. Depois de uma intensa troca de informações e, com a paixão desabrochando, o passo seguinte, e mais importante, seria o encontro. O de Lourdes e Rui foi sucesso absoluto. A química entre os dois levou-os ao altar.
Rui, com seu linguajar que poucos entendiam no primeiro momento, trocou o Rio por Rodelas. Moravam na casa dos sogros. Depois, se mudaram para Cocorobó, depois rebatizada de Canudos, onde ela foi ser professora. Lá viveram durantes anos. Rui morreu na cidade onde escolheram morar, depois de um casamento dos mais sólidos e longos. O casal se amou antes de conhecer um ao outro.
Batista Cruz é jornalista, natural de Rodelas (Ba).


