A Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), uma das mais importantes instituições públicas de ensino superior da Bahia, vive um apagão de memória. Registros jornalísticos, notícias e publicações diversas que documentavam quase duas décadas de história — desde o advento da internet até pelo menos 2016 — simplesmente desapareceram do site www.uefs.br , deixando um vazio informativo que causa perplexidade.
O Feira Hoje tentou, por diversas vezes, obter explicações sobre o ocorrido. Foram enviados questionamentos tanto pessoalmente quanto por canais oficiais do Gabinete da Reitoria, mas não houve qualquer retorno. Nenhuma manifestação, nem mesmo um “não sabemos o que aconteceu”, ou um simples “vamos apurar”, ou, ainda, “vamos procurar saber e retornaremos”. O Gabinete é silêncio absoluto, como se a memória da Uefs não tivesse importância.
Quando o primeiro reitor da era Mais Uefs, José Carlos Barreto de Santana, inaugurou o Auditório Central — uma obra que estava apenas iniciada e que por anos esteve em ruínas, a cerimônia foi histórica: sediou a 2ª Conferência Estadual de Cultura, com a presença do ministro Gilberto Gil e do recém-empossado governador Jaques Wagner. O evento lotou hotéis, envolveu a comunidade universitária e marcou uma virada na relação da Uefs com a cidade. Hoje, porém, basta procurar no site oficial da instituição: não há uma única referência àquele momento. Nenhum registro, foto, matéria ou nota. Um silêncio digital que contrasta com a grandiosidade de um marco cultural e político da época.

A omissão causa ainda mais espanto porque, desde 2007, a Universidade é administrada por gestores vinculados ao grupo “Mais Uefs”, de perfil progressista e reconhecido por sua atuação em defesa da memória, da cultura e do pensamento crítico. A ausência de explicações — ou de qualquer tentativa de restauração dos arquivos — não combina com o discurso que sempre pautou esse coletivo.
Logo a Uefs, que possui o curso de História há mais de 40 anos, considerado um dos mais emblemáticos do País, inclusive pela titulação de seus professores. Um curso que sempre se destacou pela valorização das fontes, pela preservação da memória e pela reflexão sobre o passado como instrumento de construção do futuro. Que sentido há em uma universidade com essa tradição conviver com o desaparecimento da própria história recente?
Apagamento das produções acadêmicas – Não é apenas a memória institucional que foi atingida. Trabalhos de estudantes, servidores e professores, pesquisas, congressos, simpósios e eventos científicos desapareceram do acervo jornalístico público da universidade, privando as novas gerações de acesso à própria trajetória acadêmica da instituição.
E fica a pergunta incômoda: o que garante que o mesmo não acontecerá com as produções atuais? Que segurança têm os pesquisadores, extensionistas e servidores de que seus esforços não serão, amanhã, simplesmente “deletados” sem explicação?
A universidade e o dever de preservar. Enquanto instituições pelo Brasil — universidades, empresas e entidades públicas — se empenham em criar acervos digitais e preservar (e disponibilizar ao público) sua história para as futuras gerações, a Uefs parece seguir no caminho inverso. Uma universidade sem memória é uma universidade sem identidade. E sem identidade, nenhuma instituição de ensino cumpre plenamente o seu papel histórico e social.

