Após a leitura de seis incisivas entrevistas com personalidades feirenses realizadas pela equipe do Blog da Feira – liderada por Janio Rego – e datadas no período de junho a agosto de 2010, torna-se curioso observar o que aconteceu nos anos ulteriores, quais palpites estavam certos ou errados, quais críticas pareciam coerentes ou não, e quais promessas foram cumpridas ou quebradas.
O que une as seis entrevistas reunidas neste livro* é uma paixão incondicional e inexplicável por Feira de Santana.
Como é que se ama o Rio de Janeiro? Ah, esse Cristo! Os arcos da Lapa! Esse Corcovado, meu Deus, que lindo… Como se ama Salvador? Ah, essa Cidade Baixa! Esse Rio Vermelho! Esse porto da Barra!
Mas nós não sabemos amar Feira de Santana! Ah, essa Maria Quitéria? Ah, esse Rio Jacuípe? Não mesmo. Nossa rígida educação foi pautada sobre o mote de não admirar a cidade deste modo clássico. Nem sequer conseguimos justificar nosso amor através das pessoas.
Os três Zés (Coió, Ronaldo e Neto), mais Jodilton, Tarcízio e Helder, amam Feira e não sabem explicar o porquê.
São homens inteligentes, de formação digna, bem vividos, donos de incontáveis experiências, mas não sabem responder a essa pergunta.
Porém, de qualquer forma, sabem demonstrar. E isso, de fato, é o mais importante. Eles conseguiram entender que a beleza de Feira, como disse o poeta, é “oculta aos olhos, mas aberta às almas”.
O mais interessante desses seis entrevistas, assim reunidas, é que, o seu todo (isto é, o livro em si), adquire um caráter cíclico e de múltiplos pontos de vista integrados.
Várias perguntas são feitas para todos, muitas vezes porque um assunto específico a cada um puxou outro comum a dois, três ou até aos seis.
Há também perguntas onde um dos entrevistados deve emitir sua opinião sobre outro (ainda que tenham sido entrevistas isoladas).
Por isso, vejo como o verdadeiro êxito deste trabalho a apresentação bastante dinâmica dos já referidos arquétipos, bem como a forma como eles convivem na sociedade feirense.
Há, sobretudo, uma resignação da parte de todos os entrevistados (e porque não dos entrevistadores), resignação esta que significa: fomos contaminados por um sentimento incompreensível de apreço por esta terra; não sabemos, nunca soubemos e nem nunca saberemos do que se trata; mas vai ser isso pra sempre. Já era. Acabou. É até o fim das nossas vidas: Feira de Santana.
João Daniel Guimarães Oliveira é escritor, graduado em Letras na UEFS
*prefácio para um livro com entrevistas do “Blog da Feira” .
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