Recebi um email de um leitor (que não identificarei) mostrando preocupação com a “moda” das páginas policiais no Facebook que fazem apologia à violência policial. Leiam:
“Olá, Danillo.
Sou policial civil e tenho observado que o número de “páginas policiais” no Facebook tem aumentado de forma considerável.
Essas páginas, via de regra, trazem conteúdo violento mostrando, quase sempre, bandidos feridos/mortos. Outro tipo de conteúdo que tem crescido nessas páginas são vídeos onde policiais colocam bandidos para pedirem desculpa por ofensas feitas também em redes sociais, pixados com suas próprias tintas e até se beijando na boca.
E cada dia que passa arrasta mais admiradores.
É visível que quem mantém essas páginas não está preocupado com as consequências que essa postura pode trazer.
Eu entendo que esse tipo de postura do policial torna a guerra contra o crime pessoal, onde o bandido não mais sente raiva do Estado nem da polícia, mas do policial.
Talvez esse comportamento seja a causa de tantos policiais mortos ao irem ao supermercado, por exemplo. O que para mim é bem diferente de ser morto em troca de tiros durante o serviço.
Não sei se consegui ser claro, mas se fui, o que você acha dessa nova moda?”
Compartilho das preocupações do colega e considero gravíssimo esse incentivo à violência por parte de policiais – principalmente em mídias sociais, dado o poder de viralização e consequente propagação dessa cultura. Por ingenuidade, falta de profissionalismo e incapacidade de pensar seu ofício acima das mesmas práticas pequenas típicas dos autores de crimes, muitos policiais proclamam essa “guerra particular” que traz danos a si próprios, e incentiva o fortalecimento da sensação de “inimigo” para setores bem específicos da sociedade.
Não há mal, e até é desejável, analisar ocorrências policiais à luz da técnica e da legalidade. Mas incentivar violências, debochar da morte e enaltecer a ilegalidade é trágico. O cotidiano tem nos mostrado isso.
Danillo Ferreira/ Abordagem Policial