Prezado prefeito José Ronaldo,
Vejo por esses dias a Avenida Getúlio Vargas sendo esburacada por ordens suas, as árvores, que o senhor garantiu que não seriam derrubadas, vão ao chão sem a menor vergonha, o sinistro som a serra elétrica rivaliza com a pressa de carros velozes.
Os flamboyants, musas de um belo poema de Dival Pitombo, são derrubados; outras plantas generosas, oferecedoras de sombras e belezas, também são esquartejadas. E um dos mais belos cartões postais da Feira começa a ser reduzido a cimento, ferro e pedra. É pena.
Não sei se o senhor sabe, mas a bela Avenida que orgulha os feirenses começou a ser aberta em 1920, pretendia o intendente de então ligar o centro da cidade à estrada de boiadas, dessa estrada sairia uma ligação com Salvador e, depois, com o mundo. Sonho grande!
No nascimento instalou-se a dúvida de se o nome deveria ser Maria Quitéria ou Central. O povo resolveu-a, adotando-a no seu coração generoso, nomeou-a de Avenida Nova, e assim ela aparece belo livro de Juarez Bahia (‘Setembro na Feira’, conhece-o?).
Os feirenses não apenas deram o nome, foi por ela que cresceu a educação dos filhos da terra, foi nela que se ganhou dinheiro nas disputadas feira-livres, foi nossa primeira parada de ônibus. A Avenida do povo!Um dos nossos patrimônios.
É verdade que o senhor não liga muito para essas coisas, prefere medir o mundo por número de votos, mas chamo a sua atenção que parte da história da nossa cidade foi erguida pelos metros generosos da bonita “Avenida Nova”. Foi nela que se comemorou o fim da segunda guerra, que foram feitos inúmeros comícios, – as vozes de maravilhosos oradores feirenses ainda ressoam por suas calçadas, como esquecer Clóvis Amorim e Chico Pinto? -. Também veio nela a redemocratização e a luta de variadas categorias de lutadores.
Ali, em meio ao arvoredo, poetas e músicos; escritores e loucos conspiraram pela beleza.
Não, ela não é somente asfalto, concreto e umas arvorezinhas, é a história pulsante da Feira de Santana, é a memória de sonhos e sonhadores, é um lugar do lembrar.
Mas o senhor fala em “abrir espaço para o progresso”. É estranho prefeito, esse tal de progresso pode conviver com a beleza? Teremos sempre de viver com um olho aberto para o futuro e sacrificando, no presente, arborização e estética? O futuro, e o progresso, são feitos nos hojes e nos agoras.
Quando escolhemos derrubar em vez de plantar, semeamos um futuro de mais calor, mais feiura, mais concretos, não sinalizamos com uma cidade bela e de memória ativada. Quando se derruba o patrimônio histórico faz-se uma plantação de esquecimentos e silêncios. Com a morte de árvores bonitas e generosas, mata-se a história da Feira.É pena.