Foi o solo e a água que fez tropeiros e vaqueiros, quilombolas e mascates, andarilhos, missionários, ladrões, peregrinos ou dona Ana Brandoa, escolherem, cada um a seu tempo e jeito, essas paragens onde se ergue hoje a cidade da Feira de Santana.
Principalmente a água, a proximidade e piscosidade dos rios, a riqueza das lagoas, os olhos d’água, as minações em toda essa extensão de terra onde estão o rio Jacuípe e os lençóis, lagoas e riachos que vão formar também os solenes rios Pojuca e Subaé.
Feira de Santana é uma terra formada de confluências, primeiro dessas águas, desses três rios, depois de gentes e bichos.
Um bicho em especial, o gado vacum, forma essa trilogia da ‘civilização feirense’, filha legítima da ‘civilização do couro’ mas crescida na vida do comércio e do dinheiro, na educação dos automóveis e caminhões, na ânsia ligeira do varejo.
Por aqui passaram as boiadas dos D’Avila para o Piauí se espalhando pelo Rio Grande e Ceará, as beiradas do São Francisco, Pernambuco e todo o Sertão.
Por aqui passaram também os primeiros motoristas dos primeiros caminhões que subiram ou desceram para o Sul e Norte do país pelas BRs asfaltadas.
O tropeiro e o vaqueiro consumaram-se nas mudanças dos tempos e os caminhões com as BRs formaram uma outra Feira dentro e pelo meio dessa Feira que vai se tornando mais passado que presente, mas não morre.
O antropólogo Ronaldo Sena, toma emprestado do Candomblé uma definição para essa ‘personalidade’, no seu livro “Feira de Encantados”:
Feira é uma cidade de Ogum, ou seja, caminhos abertos a partir de Feira, mas fora dela devem prosseguir.
Rito de passagem, mas os que ficam também são muitos. Nordestinos, quase todos. Gente do interior, sertanejos a maioria, desertores dos desertos do semiárido, das cidadezinhas modorrentas nas beiras dos rios secos, de passagem para São Paulo, em busca de mudança e vida melhor. Quem não tem ou não conhece uma história assim na Feira?
Os fluxos migratórios de pessoas de outros estados nordestinos para Feira deram-se fortemente em dois momentos: na década de 30 do século passado quando começaram a abrir a BR-116, a Rio-Bahia, e na de 70 com o estímulo à industrialização e urbanização nos moldes urbanísticos em voga na época e, infelizmente, ainda muito presentes no imaginário das classes dominantes.
Com a saída da feira livre do centro da cidade em decorrência dessa ‘modernização’ e ‘progresso’, a ideia de uma nova Feira, com maiores oportunidades, começando uma nova fase urbana, atraiu um número muito grande de pessoas, muitas atiradas em dificuldades financeiras naquela época inflacionária.
Foi então que a transformação do desenho urbano e social da cidade se acelerou.
Até a década de 80 ainda havia por todo canto um olho d’água, em cada ladeira uma minação, uma fonte. Desde tempos antigos, a água corria com as pessoas pelas ruas estreitas e úmidas de uma Feira sem calçamento e asfalto.
Quando trabalhei no extinto jornal Feira Hoje, lavava meu rosto de jovem e sonhador repórter em uma que existia na ladeira da Macário Cerqueira, na Muchila.
Na fonte da Queimadinha da lagoa do Prato Raso, a fonte de Lili, dos Milagres, a fonte da Macário, a da Flor, a dos Olhos D’Água, Chácara São Cosme, Conceição, eas lagoas pontuando aqui e acolá, a Grande fornecendo água encanada para os ricaços, a Subaé, Salgada, Mundéu, tanto nomes e lugares que ainda hoje não se conta quantas são ou seriam de uns tempos pra cá. Uns falam em 60, outros em 40…
As Lagoas…a de São José das Itapororocas virou utopia do poeta modernista Eurico Boaventura. A de Berreca povoa o imaginário de uma geração que tinha o horizonte geográfico como limite de aventuras de adolescências. A do Prato Raso uma saudade e uma moita de tabocas.
Todos sabem das lagoas mas ninguém sabe das lagoas. Sabe o senso comum mas não sabe a ciência necessária ao planejamento público.
Sem informação não se planeja corretamente. Não a informação apenas empírica, rasa, mas a profunda, estudada, pesquisada, confrontada, refletida à luz de conhecimentos técnicos e científicos.
Há 40 anos implantou-se aqui a primeira universidade.Numa sessão especial para comemorar a data, esta semana na Câmara dos Vereadores, o Reitor da UEFS fez uma autocrítica e lamentou quanto tempo perdeu a Universidade de estudar a cidade com mais vigor, e deu como exemplo as Lagoas…quão pouco se pesquisa e se dissemina conhecimento acerca delas além daquilo que dialoga o senso comum…!!!
Ou seja, se a ‘Academia” conhece pouco do nosso meio, o que dizer dos Poderes Públicos?
Décadas atrás um órgão do Governo do Estado notabilizou-se pelo volume de informações e reflexões sobre a geografia urbano-social de Salvador e através dele se nortearam mudanças fundamentais na melhoria da mobilidade e da vida das pessoas na capital.
Nossa Feira nunca foi mapeada dessa maneira. Nem pelos governos estaduais nem tampouco os municipais. E todos administram em cima de ações casuísticas.
Nosso “Plano Diretor fantasma” é a prova. Vive-se no famoso ‘armengue’ do que reclamou há algum tempo um sociólogo soteropolitano ao passar as vistas por Feira.Não disse o sociólogo que talvez essa vocação de feira, que se materializa através da improvisação e do armengue, seja o que há de mais rico no turbilhão desse aglomerado de gentes. E o que permite a convivência.
Feira é a mistura. Mais mistura que Salvador pois absorveu os fluxos de gente dos sertões abaixo e acima do São Francisco. De grotões onde talvez nunca tenha chegado meia dúzia de livros. E abocanha a cultura do Recôncavo que é coração da afrobaianidade.
Há ainda muito o que se compreender sobre Feira. E é a UEFS que pode fazer isso mais e melhor.
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