Estão prometidas mobilizações contra as reformas do emedebê para meados de abril. Para ser mais preciso, em 28 de abril. Podem até ter eficácia contra a reforma da Previdência, já que o governo vem anunciando recuos que só as votações, mais adiante, poderão confirmar. Mas contra a reforma trabalhista, pelo jeito, as manifestações vão se tornar inócuas. É que, até lá, calculam os governistas, a votação já terá acontecido na Câmara dos Deputados. A última trincheira – imaginária – será o Senado.
A oposição – que inclui a esquerda esfacelada -, pelo jeito, insiste no conchavo parlamentar como alternativa para barrar as danosas mudanças em andamento. E se esquece de tentar colocar o povo na rua, que é o que pode segurar a avalanche de retrocessos. A estratégia é frágil: as festejadas reformas contam com o entusiasmado apoio de parcela expressiva do legislativo conservador. Dificilmente deixarão de ser aprovadas.
Pouca gente conhece o alcance da reforma trabalhista que se desenha. Afinal, só se fala no parcelamento das férias do trabalhador; e na imperiosa necessidade de se “modernizar” a legislação “caduca” herdada da Era Vargas, conforme o clichê habitual compartilhado por governantes, empresários e meios de comunicação.
Tudo isso enquanto o tsunami de lama que emporcalha a classe política, incluindo aí oito ministros do governo de plantão, flui caudaloso nos telejornais. O próprio mandatário de Tietê, Michel Temer (PMDB-SP), não pode ser enquadrado na ciranda, mas segue sonegando respostas a inúmeras perguntas que permanecem no ar.
Futuro – Na História recente, nunca o futuro do Brasil esteve tão nebuloso. Por um lado, o passado político recente vem à tona, com uma multidão de políticos pilhados em conluio com empreiteiras, num monumental esquema de corrupção. Por outro lado, as pretensas reformas que deveriam sinalizar para o futuro trazem um inconfundível odor de atraso, de século XIX, quase de senzala.
Mais estarrecedor ainda é que o país está imerso na mais profunda crise econômica de sua história. E apesar de toda a festiva cobertura da imprensa, a atividade produtiva segue claudicante. Sucedem-se os discursos otimistas, os acenos de indicadores subjetivos, mas se vê pouca coisa concreta até aqui. A retomada da economia é, ainda, uma aposta incerta num porvir impreciso.
Milhões de brasileiros seguem desempregados. Outros tantos veem seus empreendimentos definhando, porque a clientela sumiu: ou perdeu o emprego ou perdeu renda. A pobreza – exaltada há pouco como em vias de extinção nas próximas décadas – retornou vigorosa, conforme já atestam alguns levantamentos de organismos internacionais.
Passado um ano, o governo não tem medidas concretas que ajudem a tirar o país da recessão. Tudo isso sob uma desconcertante letargia da população. Tanto que a prometida greve geral de 28 de abril pode chegar meio tarde.
foto-ilustração: artista de rua na Praça do Mercado, no centro da cidade de Feira de Santana, Bahia
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