Milhares de feirenses transitam, todos os dias, pelo Terminal Central. Quem se desloca por ali, passa pela avenida Canal ou pela própria rua Olímpio Vital vê as obras do festejado shopping popular avançando.
No início, o que havia eram apenas os tapumes metálicos. Depois, foram se erguendo as colunas cinzentas que dão sustentação ao empreendimento. Por fim, nos últimos dias, vão sendo colocados o teto e os pisos que demarcarão os andares. Máquinas e operários trabalham, frenéticos.
Quando a obra estiver concluída o Centro de Abastecimento vai perder visibilidade: quem circula por ali só vai enxergar o novíssimo empreendimento, portentoso, que já desperta interesses até de empresários chineses e coreanos, embora se argumente que o espaço abrigará a variada fauna de camelôs e ambulantes que se espalha pelas ruas do centro da cidade.
Só quem passa pela avenida Canal é que vai seguir enxergando o Centro de Abastecimento.
Porém, contrastando com o novo símbolo do progresso feirense, a visão do Centro de Abastecimento a partir da avenida Canal não é nada agradável. E isso não é de hoje: o abandono arrasta-se há pelo menos duas décadas.
As cercas que delimitam o entreposto estão arrebentadas, onde ainda existem, porque em muitos trechos desapareceram; uma lama perpétua se acumula à margem da avenida, encorpada pelos esgotos que escorrem do entreposto; o lixo – sobretudo legumes – se decompõe, ferindo o olfato e espantando transeuntes.
Urubussão comuns nas cercanias, porque por ali também se descartam sobras de carne ou animais mortos.
Abandono
Em fevereiro completaram-se 40 anos que a antiga feira-livre foi removida do centro da cidade para o então novíssimo Centro de Abastecimento.
Àépoca, o entreposto simbolizava o progresso, o salto da cidade em direção ao seu desenvolvimento. Pelo menos, era o que dizia a propaganda oficial.
O expurgo da feira-livre do centro comercial permitiria maior higiene, limpeza, facilitaria a circulação de pedestres, tornando as artérias centrais da cidade mais atrativas.
Hoje o discurso se renova: pretende-se remover camelôs e ambulantes para o novíssimo shopping popular com a finalidade de ordenar o centro da cidade, tornando-o limpo e transitável.
Ironicamente, a remoção terá como destino o mesmo Parque Manoel Matias que abriga o Centro de Abastecimento.
A diferença é que o Centro de Abastecimento não figura na equação: além de perder parte importante do seu espaço – a área de comercialização de artesanato será extinta para abrigar o novo entreposto, além do estacionamento do galpão de carnes – o espaço permanece abandonado, sujo, ignorado, sem nenhuma perspectiva de revitalização.
Triste ironia: quem décadas atrás brigava para que a feira-livre não fosse removida para o Centro de Abastecimento, talvez lá adiante tenha que brigar para que esse mesmo Centro de Abastecimento não seja extinto e seus feirantes não sejam removidos para uma região remota da cidade.
André Pomponet é jornalista e economista especialista em Política Pública e Gestão Governamental
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