Eram ‘desenhos pavorosos’, escreve Euclides da Cunha nas página d’Os Sertões descrevendo os “riscos de carvão” feitos em “cada parede branca de qualquer vivenda mais apresentável” que surgisse no caminho de volta das batalhas, pelos soldados estropiados e feridos em busca de socorro depois de rechaçados pelo povo de Antônio Conselheiro na cidadela de Canudos.
“Protestos infernais” emoldurados pelos desenhos nos muros da “estrada de Monte Santo”.
Os alvos da ira não eram Conselheiro e seus jagunços mas o próprio Exército, seus comandantes e líderes da novíssima República assustada e derrotada pelos matutos de Belo Monte.
“Um coro silencioso de impropérios e pragas” eram aqueles grafites de dor e revolta feitos pelos soldados combalidos que voltavam da refrega a que foram obrigados participar pela “mão de ferro” do Exército.
“Uma onda escura de rancores”, escreve Euclides da Cunha.
“Versos cambeteantes, riçados de rimas duras”, “imprecações”, “letras tumultuárias em que caíam, violentamente, pontos de admiração rígidos como estocadas de sabre!”.
Euclides chama-os, esses desolados e tristes grafiteiros, de “cronistas rudes” de uma campanha militar “sem feição heróica”.
E a esses grafites de “esboço real do maior escândalo da nossa História”.
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